Por José Teles
A infinidade de nomes
que fizeram a história do iê iê iê é obstáculo para qualquer autor que se
proponha a explorar o tema
O rock and roll chegou ao
Brasil no mesmo ano em que explodiu nos Estados Unidos. Em outubro de 1955,
Nora Ney, a musa da fossa, gravou Rock around the clock, lançado, poucos
meses antes, por Bill Halley and his Comets. Considerado mais um modismo
musical, o rock precisava ser consumido logo antes que fosse substituído pela
próxima novidade importada.
Praticamente todos os ídolos do
rádio, cantores ou não, embarcaram no rock and roll. Gravaram rock, do
consagrado cantor Agostinho dos Santos ao histriônico comediante Walter
D’ávila. O cantor de guarânias Carlos Gonzaga, que virou roqueiro depois de
gravar a versão de Diana. Não escapou nem o rei do bolerão lacrimoso,
Waldick Soriano, que não cantou, mas compôs um rock, Tô gamado.
Três anos depois da gravação pioneira
de Nora Ney, o rock and roll teimosamente continuava em voga, dividindo
com o bolero e a bossa nova as preferências do público. Logo teria rei, Sérgio
Murilo, e rainha, Celly Campelo, e chegaria ao auge em meados dos anos 60,
rebatizado de iê, iê, iê.
O jornalista e pesquisador carioca,
Marcelo Fróes conta a história dessa fase do rock brasileiro no livro Jovem
Guarda, Em Ritmo de Aventura (Editora 34, 284 páginas). O livro começa com a gravação de Splish
splash, primeiro grande sucesso de Roberto Carlos, uma versão do hit de Bob
Darin, assinada por Erasmo Carlos. Fróes ressalta a importância fundamental
desta música para o rock nacional, ratificada por Erasmo Carlos: “A gente mesmo
é que produzia os primeiros discos, porque ninguém entendia droga nenhuma de
rock... a gente ficava lá e como não aparecia produtor nenhum, a gente ia
tocando a coisa e daqui a pouco estava pronto o disco”, a revelação está na
introdução do livro.
Até então, as estrelas do rock
limitavam-se a entrar em estúdio e cantar o que lhes fossem apresentados.
Gravavam geralmente sucessos internacionais, vertidos para o português por
coroas feito Fred Jorge. As composições originais eram encomendadas a pessoas
como o publicitário Luís Gustavo (é dele o hino Pra frente Brasil),
autor do primeiro rock nacional, Rock and roll em Copacabana, gravado em
1957, por Cauby Peixoto.
A Jovem Guarda nunca foi um
movimento, mas uma evolução natural do rock brasileiro, e o livro fixa bem
isto. As carreiras de Roberto e Erasmo Carlos tiveram início no final dos anos
50. Ambos participaram de conjuntinhos. Os Sputiniks e Snakes, trabalharam, e
foram ajudados, por Carlos Imperial, apareceram como figurantes em chanchadas
da Atlântida (Roberto e Erasmo aparecem em Minha Sogra
é da Polícia, acompanhando Cauby Peixoto, e vestidos de caipiras em Aguenta
o Rojão). Wandérlea, Martinha e Eduardo Araújo saíram de Minas Gerais para
tentar a carreira em São
Paulo , os integrantes de Renato e seus Blue Caps vieram do
subúrbio carioca da Piedade.
Marcelo Fróes, enquanto conta
histórias pitorescas da Jovem Guarda, traça o roteiro que levou dezenas de
rapazes e moças de classe média-baixa ao caminho do rock. O rock brasileiro,
com raríssimas exceções, foi feito por suburbanos. O pai de Roberto Carlos era
relojoeiro, a mãe de Erasmo Carlos costurava para fora, a de Tim Maia mantinha
uma pensão e vendia marmitas.
Esta é a substancial diferença que,
mais tarde, separaria os alienados roqueiros dos engajados meepebistas (estes,
em grande parte universitários, filhos da burguesia emergente). A proibição de
transmissões diretas de partidas de futebol à tarde, deixou um vazio na
programação das TVs. A empresa de publicidade, Magaldi, Maia & Prósperi
comprou o espaço da TV Record para produzir o programa Jovem Guarda (o
Jovem Guarda pinçado de uma frase de Lenine). Comandado por Roberto Carlos, com
ajuda de Erasmo Carlos e Wandérlea, o programa virou líder de audiência e
provocou uma involuntária revolução nos costumes da comportada juventude
brasileira. Obviamente não foi apenas este o fator principal para a criação do
programa que viria de todo jeito, tal a força que a chamada “música jovem”
demonstrava, não apenas aqui, mas nos principais países ocidentais. Fróes
aponta, inclusive, um programa argentino o Club del Clan, como uma das
inspirações para o Jovem Guarda.
Roqueiros antigos:
Roberto Carlos, primeiro, à esquerda, Carlos Imperial, ao violão, e Cauby Peixoto cantando...
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