sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Debate do álcool com o fumo



O Álcool falou ao Fumo,
Em um momento de paz:
− Nós vamos ter um debate
Como gente séria faz,
Pra gente ficar sabendo
De nós dois qual mata mais.

O Fumo disse: − Eu aceito,
Comigo não tem descarte.
Você pode matar muito,
Mas eu mato com mais arte.
O meu nome é “mata-amigo”,
Sou conhecido em toda parte.

Mato quem gostar de mim,
O meu caso é uma traição.
Ataco é logo nos peitos,
Ele morre sem ação,
O médico examina e diz:
− Que morreu do coração.

O Álcool disse: − Eu também
É desse jeito que faço.
Afeto pulmões e fígado
E para o cérebro me passo.
Daí, aos nervos e ao sangue,
Em pouco tempo os desgraço.

Quando eu pego um rapazinho,
Saio por ali assim.
Ele vai pegando o copo,
No começo, achando ruim,
Depois vai se acostumando
Até entregar-se a mim.

Aí o Fumo falou:
− Eu mato mais moderado.
Tenho inúmeros agentes
E sou bastante ajudado.
Como exemplo na maconha
Em quem ando disfarçado.

O Álcool continuou:
− Tenho também meus agentes.
Um dos tais é o uísque,
Esse é um dos mais valentes,
Não respeita gente grande,
Já matou dez presidentes!

Na capital do país,
Eu peguei um senador.
Ele se valeu de um médico,
A cura foi sem valor.
Acabei com a vida dele,
Depois, eu matei o doutor.

Os homens inteligentes
Por mim são mais procurados.
Já deixei muitos poetas
Nas ruas degenerados.
Muitos grandes cientistas
Já matei embriagados.

Disse o Fumo: − Como disse,
Eu só pego de traição
Os grandes estudiosos
Vão pedir-me inspiração,
E em poucos iludidos morrem
Com o cigarro na mão.

Tenho levado muita gente
Para o eterno repouso.
O poeta Castro Alves,
Eu matei tuberculoso.
Neruda me conheceu,
Depois morreu canceroso.

Disse o Álcool: − O que tenho morto
Ninguém mais conta os milhões.
Os maiores homicídios
Dependem de minhas ações.
Provoquei muitos desastres,
De carros e de aviões.

Gosto de desarmonia,
Sou nos bares “procuradas”.
Já fiz muitas moças boas
Ficarem degeneradas.
Sou o desgosto das mães,
E o flagelo das casadas.

A discussão foi além,
Mas eu não pude gravar.
Sei bem que nenhum venceu,
Resolveram se juntar.
Com todos os seus agentes,
Saíram ao mundo a matar.

(Autor do Cordel: Alberto Porfírio)


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