quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Os cegos e o elefante


Ad. de Helena P. Vieira


À beira de uma estrada
que conduz a Jericó,
seis cegos, sem dizer nada,
seus barretes estendiam,
pedindo, a quem tinha dó,
esmolas, de que viviam.

Todos seis, porém, sentiam
bastante não conhecer,
o elefante, que diziam
ser um bonito animal,
muito grande, muito forte,
incapaz de fazer mal.

Quando ali aconteceu,
passar rico viajante
conduzindo um elefante.
Cada um se convenceu
que podia, com seu tato,
de uma vez saber, assim,
aproveitando tal fato,
que bicho era aquele, enfim.

O primeiro, nas ilhargas
apalpando o elefante.
“Já sei, são paredes largas”,
disse alegre, triunfante.
“Qual nada”, disse o segundo
que passando, com presteza,
as mãos sobre a grande presa
do elefante, assim falou:

“Enganou-se, meu amigo,
ele é bem parecido,
com lanças pontudas, fortes,
capazes de causar cortes.”
“Pois sim! falou o terceiro,
para mim um elefante
à cobra é que é semelhante.”

“Nunca vi tamanha asneira,
disse o quarto convencido,
para mim, é uma palmeira!”
O quinto cego, porém,
como a orelha alcançasse,
disse, opinando também:

“Deixem de tanta parola,
o elefante é, tão somente,
uma grande ventarola.”
E o sexto pegando a cauda,
do bicho, disse por fim:
“Qual nada! Mas que cegueira!
Como a corda, é ele, assim.”

E o guia do elefante,
ao lado do viajante,
seguiu deixando abalados,
os seis cegos exaltados,
discutirem esta questão.

“Se a verdade é tão difícil
de apurar, em discussão,
fiquemos, pois, cada um,
com sua convicção.”

(Do livro “O mundo da criança”)

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