sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Aparício Viana e Silva e seus causos



Na foto o juiz Aparício Viana expulsa um jogador
e olha para o relógio a fim de dar os devidos descontos.

Se o jogo era difícil Aparício botava o 38 na mala e caminhava para o campo. Se o jogo era maré mansa, ele levava com piadas. Estádio Passo da Areia, em Porto Alegre, a torcida juntinho ao campo. Internacional e São José era o jogo. O juiz, Aparício Viana. Ele marca um escanteio contra o São José e um torcedor não fez por menos: “Aparício, seu gato, eu te conheço!”

Aparício interrompe o jogo. Põe o apito no bolso. Jogadores e torcedores aguardam. Silêncio. Aparício se aproxima do alambrado, chega bem perto do torcedor que gritou. Abre os braços, atira a barriga para frente e grita para que todos ouçam: “E daí? Vantagem era eu te conhecer!” 

Foi uma gozação geral em cima do pobre torcedor e o jogo virou festa. Atitudes como esta eram típicas de Aparício Viana. Um homem que sempre fez questão de deixar a sua marca em qualquer acontecimento. Tudo na vida é sério, mas tudo pode ser encarado com bom humor. Basta escolher o momento.

No futebol ele foi tudo: jogador, juiz, técnico, auxiliar de treinador (foi auxiliar de João Saldanha na Seleção Brasileira em 1970) e até presidente de clube. Era uma figura popular, quase folclórica. Muitos podem discordar de suas opiniões, mas poucos se colocam abertamente contra ele.

Aparício não gostava de atacante canela-de-vidro. Num outro Internacional e São José, ainda no Passo da Areia, a dupla de área Almir e Osmar deixava cair a madeira. O centroavante do Internacional Larry se irritou e partiu para cima do Aparício: “Baixinho, desse jeito não dá para entrar lá!” – “Não dá? Então não vá. No momento que der, me avisa e troca comigo. Tu sabes que eu bato com as duas.”

Em 1943, um Grêmio e Cruzeiro. No começo do jogo, Aparício apita um pênalti para o Grêmio. Os jogadores do Cruzeiro resolveram impedir a cobrança. Aparício avisou; “Se não bate o pênalti, acabo o jogo!” Os jogadores partem para cima do Aparício e a polícia entrou em campo. “Querem saber de uma coisa? Agora quem se irritou fui eu. Até loguinho.” Aparício, entre os policiais a cavalo, saiu abaixo de vaias e pedras.

Outro jogo em Bajé, o time do mesmo nome jogava o clássico local contra o Guarani – Expulsei o jogador Balejo, o xodó da torcida do Bajé. Quando o jogo terminou, a torcida partiu para cima de mim. Quando pessoal chegava perto eu sacava o 38 e todo mundo recuava. Quando eu guardava o revólver, eles partiam prá cima novamente. Aí pensei: só saio dessa se atirar num deles. O que me salvou foi a tradição: em jogo dos dois times era de lei quebrar o pau entre suas torcidas. Quando a torcida do Guarani partiu para a briga com a do Bajé, eu tratei de sair de fininho.

Aparício Viana também apitou futebol em Pernambuco e foi técnico no Rio Grande do Sul. Quando treinava o Força e Luz foi vice campeão gaúcho em 1947 e 48.

Reportagem na Revista Placar de 1972

Outras histórias...

Aparício era treinador de um clube pequeno da capital. Seu time estava sendo goleado. No intervalo da partida, Aparício interpela cada um dos seus zagueiros e ouve a mesma resposta:

- Não dá, seu Aparício, vem sempre três pra cima de mim. Ou: - Seu Aparício, estou sempre marcando dois. - Assim não dá, seu Aparício, tem sempre três no meu setor.

Aparício ouve as explicações e não diz nada. Fica ao lado da entrada onde deverá retornar o time adversário. Olha o time contrário e reúne-se com os seus jogadores, falando para todos ouvirem:

- Olha, pessoal, acabei de contar os jogadores adversários e vi que eles estão só com onze! Não estão mais com dezoito como estavam no primeiro tempo. Agora vamos marcar direito, porra!”


2 comentários:

  1. O Aparício era um cara especial para mim,o admirava como um ótimo profissional, como pessoa e além disso era me padrinho juntamente com minha madrinha Anita (sua esposa).
    Saudades do baixinho 👏👏👏
    Jairo

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  2. Tem mais uns dois livros de história Aparicianas.....

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