quarta-feira, 11 de novembro de 2020

O Lubisômi

 Nhô Bento

Fiquemo um tempão ali se namorando,
Eu oiando bem nele, ele me oiando.
Rezei um oração, num diantô...
Fiz o pelo siná, ele afastô,
Mas eu errei, num fiz co’a mão direita
E o coisa ruim vortô.
 

Mas aí eu fiquei com mais corage,
Me deu réiva, eu num corro da bobage...
Ranquei da cinta minha garrucha
E gritei: Ocê imbucha ou desimbucha?
 

Engatiei, puchei. Quá tiro nada.
A garrucha intupiu... No desespero,
Eu tremia quiném um maleitero,
Pru que o Lúcifer ficou valente,
Que nem leão e estralava os dente,
Mais brabo inté do que quarqué quexada.
 

Eu dava pulo assim, deste tamanho
Pra me livra dos dente do Diánho...
Uma hora que ele quis me atarracá,
Minha potranca azulô no matagá
E me dexô sozinho com o ladrão.
 

Gramei cô tá um pedacinho duro...
Inté que eu gritei pra ele: Te escunjuro...
Seja quem for suma pros Quinto já..
Aí ele murchô, garrô a uivá;
 

Triste que retaiáva o coração da gente
Quando parou de uiva...dava dó vê..
Ele oiô pra eu, cumo quem diz: Ocê...
Pruquê me escunjurô ? Minha sorte é esta..
Coitado. Eu sei que escunjurá num presta..
Mas só fazendo ansim ficava em paz..

Deus que me perdoe se escunjurando errei..
Mas afiná num fui eu que provoquei.
Despois ele me oiô muito sentido
Cumo argúem quando fica arrependido...

Entrou dentro do mato e eu num vi ele mais.

Bão.. eu vim vindo a pé...
vinha pensando o causo que passô
quando ascancei o sitio do Dotô
topei com meu cumpade Zé Correia...
 

Contei o causo pra ele, contei tudo...
Ele escuitava e tal, .mas tava mudo,
Maginando decerto que eu mentia..
Eu que num minto e sei o que dizia
Fui ficando com as purga atrás da 
orêia 

Inté que eu catuquei: − Cumé mecê duvida?
Ele me disse: − É, pode ser...
− Pode ser não ora essa, pois eu vi.
Eu que tava queimado, aí xinguei
a assombração de tudos nome.
 

Quando oiêi pru cumpade, ele chorava...
Dava dó vê como saluçava.
Aí é que eu percebi. Quá... essa vida
Há de ter sempre história assim doida.
História que mal consomi...
Era ele, o cumpade Zé Correia, o Lobisomi!

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