terça-feira, 22 de novembro de 2022

O país dos salões

 

(...). A sinuca era a grande diversão do homem do interior. O Bar Íris abria já de manhã pra pegar a rapaziada do Ginásio Caratinga matando aula. Quando, no começo da noite, aparecia no bar um desconhecido com cara de bobo e ficava ali, caladão, palitando seu dentinho e prestando a maior atenção no jogo, todo mundo sabia quem ele era. A turma jogando vida e ele ali, só assuntando. Até que, depois de longo tempo, alguém perguntava se ele não queria jogar. Ele topava todo tímido, meio perguntando pelas regras, olhando se tinha um dinheirim no bolso, lá pela meia-noite já tinha perdido tudo. Então, pegava uma nota toda amarrotada no fundo do bolso da calça, jogava na caçapa e dizia: “Vou jogá a úrtima”. E, antes que a manhã chegasse, já tinha limpado todo mundo. Todos sabiam que era exatamente isso que ia acontecer, mas era um espetáculo que não se podia perder. Na noite seguinte a cidadezinha toda já sabia da história. E havia uma multidão no bar para assistir à nova exibição do forasteiro. Até que Neném, o craque de Caratinga, aparecia na terceira noite. E recuperava o dinheiro que a cidade tinha perdido. Ou não. Às vezes o forasteiro era mesmo imbatível e aí era outro espetáculo. 

(Parte de uma crônica do Ziraldo, na revista Bundas,

novembro de 1999)


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