Por Roberto Pellin
Baratinhas na subida da Avenida Otto Niemeyer
Cedinho o povo se deslocava para os
pontos estratégicos, de onde se obtinha melhor visão, e segurança. Os morros e
construções altas eram os lugares preferidos. Levavam-se merendas e bebidas, já
que a pista ficava interditada.
A primeira corrida de automóvel em Porto Alegre foi
realizada em 1923. Foi de apenas 1
km lançado e teve como palco uma faixinha que ligava a
ponte do Gravataí ao aeroporto. Na Tristeza começou em 1924 e tinha como
circuito as ruas Wenceslau Escobar, Icaraí, Dr. Campos Velho, Estrada da
Cavalhada. Av. Tramandaí, Cel. Marcos e Wenceslau Escobar. A largada e a
chegada eram em frente ao palanque oficial, armado na praça. Corria-se no sentido
da ordem acima descrita. Após a segunda corrida, os volantes resolveram
inverter o sentido, fazendo a maioria das curvas para a esquerda. Mais tarde, com
a abertura da Otto Niemeyer, o circuito foi
encurtado, passando-se a correr por este atalho.
As primeiras corridas foram
organizadas pela Associação Rio-grandense de Estradas de Rodagem e, a partir de
1934, pelo Touring Club do Brasil.
A primeira prova, de 1924, foi ganha
pelo carioca Irineu Correa. Até 1927 repetiram-se as corridas, quase que
anualmente, depois houve uma parada. Somente em 1934, quando o Touring Club
organizou o “raid” Montevidéu-Porto Alegre, foi que os ânimos reacenderam-se.
Nesse mesmo ano foi realizada uma corrida na Tristeza, vencida por Artur do
Nascimento Júnior. De 1934 até 1940 foi o período auge das baratinhas. Os
carros eram abertos, mas devidamente preparados com carburador especial, canos
protetores no alto do encosto, bombas de compressão, etc. Os pilotos corriam de
touca ou capacete e, se quisessem poderiam levar um mecânico auxiliar. A
velocidade média era 113
Km/h nas primeiras provas, mais tarde foi elevada para
135. Participavam volantes nacionais, uruguaios e argentinos.
Na pista da Tristeza as baratinhas
também fizeram sua apresentação com carvão de lenha em 1941 e em 1945, sendo a
última vencida também por Catharino Andreatta.
Com o retorno da gasolina,
recomeçaram as corridas em 1945.
A vibração, especialmente da ala jovem, provocava o
surgimento de ídolos. Norbert Jung, os irmãos Andreatta (Catharino, Júlio),
Olinto Pereira, Dirceu Oliveira, João Caetano Pinto, Adalberto Moraes, Diogo
Elwanger, Olavo Guedes, Aristides Bertuol e muitos outros que, além de ídolos,
eram sempre favoritos. A maioria corria com Ford, os demais com Chevrolet,
Hudson, Lancia, DKW e, mais tarde, Simca.
As corridas interditavam, por mais de
meio dia, uma enorme área da zona sul, além de que se constituíam sempre num
iminente perigo, pois rara era a vez em que não ocorria um acidente.
Recordamo-nos do ocorrido com Adalberto Moraes, na curva da Tristeza,
chocando-se contra a delegacia e a Casa Carvalho, resultando várias fraturas no
piloto. O da curva da Pedra Redonda foi o que mais nos impressionou. O uruguaio
Ramon Sierra desceu a lomba de pé colado e não dominou o carro. Na capotagem
ele saltou no alto dos plátanos da chácara do seu Bier e, ao cair de ponta
cabeça, deixou um sapato trancado no fio telefônico! E não morreu...
Nessa parte da cidade, essencialmente
residencial, que já vinha sentindo o início da explosão demográfica e tendo
como acesso principal a faixa de corridas, não tardaram os protestos de
moradores, reclamando o direito de ir e vir para seus lares. Em 1967 tivemos
ainda duas provas, as “6 Horas” e os “500 Km ”; esta última vencida por Chico Landi.
Em 1968 o governo deu por encerradas as corridas na Tristeza
A seguir, foi asfaltada a Av. Vicente
Monteggia e os corredores imaginaram um pequeno circuito pelo asfalto, abrangendo
Cavalhada e Vila Nova, ainda pouco populosas. No chamado circuito da Vila Nova
apenas duas corridas foram realizadas. A despedida das 12 horas foi vencida
pelos irmãos Wilson e Émerson Fittipaldi, pilotando um Simca especial, em 1968.
Nesta prova um carro saltou da pista, na esquina da Estrada da Cavalhada com
a Otto , atingindo um barraco e matando um
menino. Mais uma vez as autoridades intervieram, proibindo provas neste
circuito. A partir de então, o Automóvel Clube do Rio Grande do Sul comprou uma
área em Viamão e construiu o “Autódromo de Tarumã” inaugurado em novembro de
1970.
(Texto retirado do “Almanaque do Correio do Povo”, de 1976)
(Texto retirado do “Almanaque do Correio do Povo”, de 1976)
Segundo circuito
1. Largava da Praça
da Tristeza;
2. Subia a
Wenceslau Escobar;
3. Na Pedra
redonda, ia pela Avenida Coronel Marcos;
4. Rua Tramandaí,
em Ipanema;
5. No antigo posto
de gasolina, tomava a Estrada da Cavalhada, hoje Avenida Eduardo Prado;
6. Subia a Otto
Niemeyer, finalizava a volta na novamente na Praça da Tristeza.
Espetacular. Sempre ouvi falar dos Andreatta. Catarino e Julio.
ResponderExcluirObrigado pelo pist.
Sensacional, obrigado, Nilo.
ResponderExcluirAmigo Luis, continue prestigiando o nosso modesto almanaque.
ResponderExcluirFelicitaciones Nilo por el trabajo, un año fueron pilotos uruguayos a correr en la categoria 1300 c.c., conocida en nuestro pais como Categoria Baja Cilindrada debe haber sido por 1953 1955, saben algo??, saludos desde Uruguay
ResponderExcluirElas marcaram a programação das Festas da Uva de 1950, 1954, 1958 e 1961, mobilizando pilotos de todo Estado e atraindo multidões às estradas empoeiradas do interior da Serra Gaúcha. Falamos das lendárias corridas de carreteras, que agora tem boa parte de sua história registrada em livro. Numa iniciativa dos próprios autores, Luiz Fernando Andreatta, 77 anos, e Paulo Roberto Renner, 75, acaba de ser finalizada e impressa a publicação Automobilismo no Tempo das Carreteras – Em Especial no Rio Grande do Sul.
ExcluirSão 262 páginas, com mais de 700 fotos (algumas coloridas), que fazem, provavelmente, o mais completo inventário das provas automobilísticas e desse tipo de veículo de competição – que movimentou o Estado e o país, desde o final dos anos de 1930 até o fim da década de 1960.
Sensacional Nilo. Lembro que o meu pai me levou a uma dessas corridas na Otto Niemeyer esquina com a Wenceslau Escobar. Acho que foi em 1967 vencida por Chico Landi, com um carro importado BMW.
ResponderExcluirFlávio, que boa lembrança que tiveste dessa corrida, no único circuito de rua de Porto Alegre. Bons tempos!
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