terça-feira, 27 de novembro de 2018

Nas Ruas de Porto Alegre



Rua da Praia

Porto Alegre, tuas ruas têm infinitas histórias
E em todas tuas rotas, vejo o poeta e a poesia;
O escrito e o escrevente, descrito nesta memória
Como o revoar das pombas, das torres da reitoria...

Quem me dera, se eu fosse um filho de Veríssimo
Ou um neto de Quintana, bem que eu poderia ser
Para dar-te, Porto Alegre, um verso muito ilustríssimo
E neles ilustrados as tuas ruas, em teu lindo amanhecer...

Eu bem que poderia ser mais um ipê da Redenção
E, num domingo de Bric, desfolhar-me na Bonifácio
Anunciando o outono, no final de mais um verão,
Enfeitando de flores as linhas deste meu prefácio...

E de lá iria com o vento, ou, quem sabe, ele eu seria
E assim eu correria pelo Guaíba, do Gasômetro a Ipanema
E, assim, atravessaria os morros da Glória até a Serraria
E, em Porto Alegre, eu me esparramaria como um simples poema...

E minhas palavras chegariam até o Moinhos de Vento
E passeariam pela Goethe até findar-se na Mariante
E esboçariam, em palavras, este meu grande sentimento
Depositadas em rimas, como uma flor lapidada em diamante...

Porto Alegre, quem me dera se tuas ruas falassem
E, no adentrar da noite, tuas histórias pudesse me contar
Falar-me-iam dos passos na madrugada, como se cantassem
As pegadas de Bebeto Alves, nas ondas sonoras soltas no ar...

Há, em mim, um pouco do Menino Deus, andando pela Getúlio,
Há, também, um pouco do punk, desfilando pela Osvaldo,
Há todo aquele frio do vento na Andradas nas manhãs de julho
E o caminho da Farrapos, do centro até o São Geraldo...

Porto Alegre, lá me vou pela Borges seguindo ao Beira-Rio
Ou, quem sabe, pela Azenha até o Olímpico Monumental.
O vermelho e o azul equilibrando-se ao teu meio-fio,
Em nessas tuas sendas, a história de um outro Gre-Nal...

Nas tuas esquinas, meninos vendem o Correio e a Zero Hora,
Trazem as notícias do que foi ontem, mas não preveem o futuro.
Ah, Porto Alegre, os meus passos eu firmo em ti agora
E observo, na Mauá, o detalhe de um artista pintado no muro...

Ah, Porto Alegre, em tuas ruas um povo que luta e protesta,
Os caras pintadas, colonos sem terra, professores e suas sinetas.
Também há comemoração, trilegal tuas ruas sempre abertas
Magia simples, casas antigas, venezianas nas venetas...

Porto Alegre, quem me dera morrer, e, assim, virar poeira
Esparramando-me pelas solas dos sapatos, nas noites sem lua.
Assim, estaria nos teus caminhos planos, até em tuas ladeiras
         E me eternizaria, feliz, nos ladrilhos de tuas ruas...

Marcos Ramos



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