Paulo Mendes Campos
Existiam no Oriente três homens
maduros, Gaspar, Melquior, Baltazar, que acreditavam em tudo; e porque viam em
tudo uma linguagem estrangeira, eles se movimentavam entre os textos radiosos
da esperança. E só acreditavam que estivéssemos no mundo, nem que o nosso tempo
fosse o tempo, nem que a nossa vida fosse a vida, mas que o mundo, o tempo e a
vida fossem portas trancadas, e a chave fosse a imaginação do homem. Pois é
preciso imaginar para crer.
Gaspar, Melquior, Baltazar sabiam que
o mundo significa outra coisa: e, se um grito de gralha se perde acima dos
abetos, não é um grito de gralha, mas um augúrio para o sonho do homem: e se o
próprio sol há de morrer, e o homem vive na escuridão, a verdadeira luz precisa
ser adivinhada. Pois a luz que nos alumia também não é a verdadeira luz.
E enquanto todos ansiavam
angustiadamente por um milagre, Gaspar, Melquior e Baltazar já estavam
satisfeitos de todos os milagres que se realizam cada dia; o milagre do dia e
da noite; o milagre da água, da terra e do fogo; o milagre de ter olhos e ver;
o milagre de ter ouvidos e ouvir; o milagre de ter um corpo; então, já
satisfeitos de viver em um mundo de milagres, eles viram a estrela que os
aliviava das maravilhas de todos os dias, pois era uma estrela inventada, uma
estrela que os outros homens não viam.
E os três reis magos seguiram a estrela
ao longo de duras noites de inverno; e, chegando a Belém, a estrela parou acima
do humilde lugar onde se encontravam um menino e sua mãe. E, abrindo os cofres
de ouro, incenso e mirra, eles adoraram o símbolo que se fez carne, prostrados
diante do nascimento, da glória, da crucificação e da morte. A vida deixou de
ser um milagre. E Gaspar, Melquior e Baltazar puseram-se em marcha em busca de
seus reinos contentes de terem visto uma criança que não era um milagre.
Texto extraído do
livro “O Amor Acaba”,
Editora Civilização
Brasileira - Rio de Janeiro, 1999, pág. 145.
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