Jânio Quadros por Baptistão
“Fui vencido pela reação e assim deixo o governo.
Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando
infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores. Mas baldaram-se os meus
esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira
libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo
e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.
Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando,
nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses
gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do
exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e
me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.
Se permanecesse, não manteria a confiança e a
tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade.
Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.
“Encerro, assim, com o pensamento voltado para a
nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do
Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem
da renúncia.
Saio com um agradecimento e um apelo. O
agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e
fora do governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar,
em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo é no sentido da
ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios,
para todos e de todos para cada um.
Somente assim seremos dignos deste país e do
mundo. Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação
cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos
todos. Há muitas formas de servir nossa pátria.”
Brasília, 25
de agosto de 1961.
Jânio Quadros
Alarde de golpe e renúncia
Jânio Quadros por
Liberali
Em meio a tantas polêmicas, o
ex-padrinho político Carlos Lacerda, irritado com as contradições e a
independência partidária de Jânio, quis reforçar entre os militares e a opinião
pública, a ideia de que o presidente estava ligado ao comunismo. Lacerda foi à
televisão denunciar um possível golpe que estaria sendo articulado pelo
presidente e então ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta.
Na manhã seguinte, Jânio apresentou
sua renúncia ao Congresso, que a aceitou de imediato. Para Newton Itokazu, as
“forças ocultas” citadas na carta mostravam as dificuldades que o presidente
teve para lidar com a oposição dos antigos aliados, a elite conservadora e os
militares.
De acordo
com Schmitt, porém, a abdicação foi o maior blefe de Jânio.
- Ele esperava obter
poderes extraordinários com a renúncia. Jânio não tinha a intenção de sair do
governo pelas portas do fundo.
Para o historiador Marco Antônio
Villa, da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), Jânio tinha uma enorme
instabilidade emocional. Segundo ele, o presidente esperava voltar ao poder
pelo clamor popular.
- Jânio tentou construir uma versão da renúncia que nem
ele conseguiu entender.
Por fim, seu vice, João Goulart, que
no momento fazia uma viagem à China comunista, assumiu o poder – fato que
reforçou a resistência das elites conservadoras e militares, e que, no fim,
culminaria com o golpe militar de 1964.
Uma pequena história folclórica sobre Jânio Quadros
Conta a lenda que um dia alguém
perguntou a Jânio Quadro o porquê da sua renúncia. Ele teria respondido:
-
Fi-lo porque qui-lo.
Quando a história da pergunta chegou aos
seus ouvidos, ele teria dito:
- Eu nunca teria dito tal
frase, pois ela está gramaticalmente incorreta. Eu teria dito: Fi-lo porque o quis. Nunca usaria a ênclise na primeira oração e, sim, a
próclise na segunda, pois a conjunção “porque” atrai o pronome oblíquo para
antes do verbo. Se me perguntassem: Fizeste isso? Fi-lo. Quiseste isso? Qui-lo.
Outra pergunta feita a ele, pelo seu
prazer me tomar um traguinho, por que ele bebia:
- Bebo porque é líquido. Se fosse sólido, comê-lo-ia
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