domingo, 24 de janeiro de 2021

A saúde e o coração de D. Pedro I

 

Epilepsia 

Doença que causa convulsões e perda de consciência em intervalos irregulares. Dom Pedro I sofria deste mal desde criança. Seus ataques epiléticos causavam sustos e apreensão em todos que o cercavam. Em pouco tempo, o Brasil inteiro ficaria sabendo que o príncipe, depois imperador, padecia da enfermidade. Apesar da doença, D. Pedro nunca deixou de levar uma vida agitada e cheia de aventuras. 

Tuberculose

Doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis; matou muita gente antes da descoberta de um antibiótico poderoso que pudesse combatê-la. 

A tuberculose consumiu D. Pedro I; quando ele morreu, em 24 de setembro de 1834, a autópsia revelou que “raro era o órgão indispensável à vida que não apresentasse lesões. O coração e o fígado hipertrofiados. O pulmão esquerdo denegrido, friável, sem aparência vesicular quase todo, apenas numa pequena porção da parte superior era permeável ao ar. Os rins, onde fora encontrado um cálculo, inconsistente, esbranquiçados. O baço amolecido, a desfazer-se todo”. 

Pobre D. Pedro, tão acabado aos 36 anos. 

Coração 

Ao receber as cartas das Cortes Constituintes portuguesas, pouco antes de proclamar a Independência, D. Pedro sentiu-se, segundo testemunhas, “aflito, seu peito arfante num movimento apressado, e com a mão esquerda ele comprimiu o coração que palpitava dolorosamente”. Esse mesmo coração parou de bater no dia 24 de setembro de 1834. Três dias depois, seu corpo foi enterrado na igreja de São Vicente, em Lisboa (seria transferido para o Brasil em 1972). Mas o coração foi posto numa urna e levado para a igreja da Lapa, na cidade portuguesa do Porto, pois essa foi sua ordem antes de morrer. É lá que o órgão está até hoje, conservado em uma solução mista de formol, e são necessárias cinco chaves para permitir acesso ao recipiente de vidro onde repousa o outrora agitado coração de D. Pedro. Um coração que bateu forte, motivado por muitas paixões, entre elas, com certeza, a paixão pelo Brasil.

Urna com o coração de D. Pedro I 

(Do livro “Dicionário da Independência – 200 anos em 200 verbetes, de Eduardo Bueno”

***** 

Em 24 de setembro de 1834, D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal falecia, por volta das 2h30min da tarde, no palácio de Queluz. Desde então, difundiu-se uma suspeita de que seu médico particular, Dr. João Fernandes Tavares (1795-1874), o tivesse envenenado a pedido dos miguelistas, apesar de autópsia da vítima ter indicado falência de múltiplos órgãos e tuberculose. Nas palavras da Imperatriz D. Amélia, que assistiu a agonia de seu esposo, ela diz que “o pulmão direito [de D. Pedro] estava cheio de água, que continha mais de dois litros e o esquerdo não existia. O coração estava dilatado”. O ex-imperador, pressentindo a sua morte, chegou a enviar um comunicado aos deputados portugueses afirmando que seus dias estavam terminando. A guerra pela reconquista de Portugal das mãos do irmão, D. Miguel, acabou por cobrar demais do físico da vítima, já debilitado por algumas costelas quebradas em decorrência de uma queda de cavalo. Contudo, um documento inédito, publicado na edição desse mês pela Revista de História da Biblioteca Nacional, e assinado pelo Dr. Tavares do monarca, vem oferecer mais luz às causas da morte de Pedro e, consequentemente, livrar o médico da acusação de envenenamento. 

O resultado da autópsia do ex-imperador havia sido publicado avulso no ano da morte do mesmo (1834). A partir daí, ele permanecera praticamente desconhecido por parte dos pesquisadores, até que fora localizado em uma coleção particular no Brasil, e seu proprietário aceitou em divulgá-lo. Através das páginas do documento, podemos observar a versão detalhada do Dr. Tavares para a morte da vítima, onde o autor afirmava, entre muitas outras coisas, que há pelo menos 14 anos, “S. M. I. sofreu ataques de inflamação de fígado, e desde o princípio desta afecção, que foi ela tratada por um método perturbador, e impróprio pelo Augusto Doente…” Aliado à publicação da autópsia na íntegra, a edição acompanha mais 7 páginas de um excelente artigo escrito pela pesquisadora Cláudia Thomé Witte, revelando mais alguns detalhes dos últimos anos de vida de D. Pedro I. “Tendo agora em mãos o resultado da autópsia”, escreve Witte, “poderemos confrontar o documento com as descobertas científicas do século XXI”. Destarte, ciente da relevância de tal descoberta, o portal Rainhas Trágicas traz para você, nosso leitor, os scans das 13 páginas da matéria de Capa da edição 101 da Revista de História da Biblioteca Nacional, incluindo o artigo de Cláudia Thomé Witte e a autópsia do monarca, pelo seu médico Dr. João Fernandes Tavares. 

Revista de História da Biblioteca Nacional, n° 101 –  Autópsia de D. Pedro I, por: Renato Drummond Tapioca Neto



Nenhum comentário:

Postar um comentário