Túlio Milman
São compreensíveis, dentro do limite retórico de um bom debate, os argumentos dos que se opõem à vacina. Não há problema em discutir o tema. Mas, neste momento, só existe um lado cujos direitos estão sendo realmente atropelados: o dos que querem se vacinar.
É contraditório e inaceitável que os defensores da suposta liberdade de não se vacinar estejam bloqueando, deliberadamente, a mesma liberdade que exigem para si, só que para os que pensam diferente. Muito tem sido dito sobre o atraso do Brasil no início da imunização contra covid-19. Não é só bagunça. Na raiz da nossa lentidão está a falta de vontade e a crença de que vacinar não é tão importante assim, defendida por importantes setores do governo federal.
É um descalabro absoluto. Esses que estão aí atravancando o nosso caminho bradam ininterruptamente que ninguém tem o direito de obrigar o outro a se vacinar − só a União Europeia e os Estados Unidos, quando a gente for levar a família para a Disney ou fazer selfie na Torre Eiffel. Mas eles, os justiceiros da liberdade individual, estão impedindo milhões de indivíduos de exercer seu livre-arbítrio.
Se os antivacinas alojados no poder fossem mesmo consequentes com o que pregam − o direito à escolha − correriam para garantir a liberdade dos que pensam diferente. Como isso não acontece, é legitimo concluir que esse segmento não defende o amplo e belo conceito da liberdade, mas, sim, a sua exclusiva visão de mundo, algo absolutamente autoritário, sectário e injusto.
(No jornal Zero Hora, janeiro de 2021)
P.S. Em Israel*, entenderam muito cedo que a vacinação não tem relação com política de direita ou de esquerda, mas é uma questão de saúde pública. Por isso, desde o início, deram prioridade à aquisição e, depois, à distribuição das vacinas.
Cristina Bonorino, professora titular da UFCSPA
e membro do comitê científico da SBI.
*O país que mais vacinou sua
população até gora no mundo.
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