sábado, 16 de janeiro de 2021

Termos preconceituosos*

 

Há movimentos para tirar de circulação termos e expressões ofensivos a minorias. 

É uma questão de civilidade. 

“Fazer baianada”, “serviço de preto”, “coisa de mulherzinha”, “programa de índio” não vão fazer falta nem deixar saudades. 

Por outro lado, há os exageros. Coisa de gente que perdeu a mão (e não vai aí nenhuma hostilidade aos amputados), o foco (não, não vejo com maus olhos os portadores de presbiopia, astigmatismo, catarata), o rumo (longe de mim querer alcançar as vítimas de desorientação amnéstica), o eixo (sem inclinação desfavorável aos que sofrem de labirintite). 

“Caixa preta”, “sorriso amarelo” e “entrar no vermelho” não têm conotação racial. Mas, no ritmo em que as coisas vão (e continuam indo!), não será surpresa se a lista de expressões que devemos banir do idioma para torná-lo mais inclusivo incluir: 

– Terça-feira gorda.

> Ofende os dias da semana não adiposamente privilegiados. 

– Apressado come cru.

> Busca ridicularizar os adeptos da dieta crudívora. 

– A carne é fraca.

> Busca favorecer, sub-repticiamente, a dieta vegetariana. 

– Gordura trans.

> Associa os pluçaize e as pessoas cuja identidade de gênero difere daquela designada no nascimento a algo prejudicial à saúde; 

– Quem vê cara não vê coração.

> Privilegia os cirurgiões plásticos  em detrimento dos cirurgiões cardiovasculares. 

– Tempos de vacas magras.

> Ofende as anoréxicas, correlacionando magreza e miséria.

– O trem tá feio.

> Insulta o já combalido sistema de transporte ferroviário e, simultaneamente, os indivíduos (mineiros ou não) em desconformidade com os padrões estéticos da sociedade. 

– Alto lá!

> Estigmatiza os esbeltamente avantajados. 

– O que vem de baixo não me atinge.

> Ultraja os de estatura comprimida. 

– Pimenta nos olhos dos outros é refresco.

> Perpetua estereótipos contra as pimentas, ignorando o grupo minoritário das pimentas biquinho, que não ardem. 

– Deus escreve certo por linhas tortas.

> Fomenta a opressão gramático-teísta em relação às pessoas diferentemente dotadas de destreza manual. 

– Um dia é da caça, outro é do caçador.

> Ignora a pesca, fonte de subsistência das populações ribeirinhas. 

– Uma andorinha só não faz verão.

> Discrimina os celibatários (voluntários e involuntários), os nerdes e os sologâmicos; 

– Não julgue o livro pela capa.

> Institucionaliza o menosprezo aos designers gráficos, cuja profissão sequer é reconhecida. 

– É dando que se recebe.

> Estimula práticas sexuais não ortodoxas entre parceiros do mesmo sexo, vinculando a entrega física a posterior recompensa. 

– Cada cabeça, uma sentença.

> Deprecia o STF. 

– Roupa suja se lava em casa.

> Propaga subliminarmente o boicote ao empreendedorismo na área das lavanderias. 

– Quem com ferro fere, com ferro será ferido.

> Nega a teoria de que racismo reverso não seja racismo; 

– Quem tem boca vai a Roma.

> Faz apologia do tráfico de drogas, insinuando que traficantes sejam bem sucedidos, o que lhes permite viajar ao exterior. 

– Preto emagrece.

> Essa não precisa nem comentar, precisa? 

*Eduardo Affonso no seu facebook 

Adendos dos leitores 

Por que “nuvem negra” tem que significar tempestade? Por que falta de luz tem que chamar “escuro”? Por que falhar as ideias tem que chamar “dar um branco”? Por que um punhal ou um facão são chamados de “arma branca”? E “branco de medo”? “Vamos botar o preto no branco”? Por que “buraco negro”, Hawking? Não saber responder uma questão é “deixar em branco”? Por que quem tem cabelos brancos têm de pintar de preto? Por que crimes de colarinho “branco”? 

Suzane Clinke


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