segunda-feira, 28 de abril de 2014

A Prece



Então, uma sacerdotisa disse: “fala-nos da Prece.”

E ele respondeu dizendo:

Vós rezais nas vossas aflições e necessidades; pudésseis também rezar na plenitude de vossa alegria nos dias de abundância.

Pois que é a oração senão a expansão de vosso ser para o éter vivente?

E se constitui conforto exalar vossas trevas no espaço, maior conforto sentireis quando exalardes a aurora de vosso coração.

E se não podeis reter vossas lágrimas quando vossa alma vos chama para orar, ela deveria esporear repetidamente, embora chorando, até que aprendêsseis a orar com alegria.

Quando rezais, vós elevais até encontrardes, nas alturas, aqueles que estão orando à mesma hora, e que, fora da oração, talvez nunca encontrásseis.

Portanto, que vossa visita a este templo invisível não tenha nenhuma outra finalidade senão o êxtase e a doce comunhão.

Pois se penetrardes no templo unicamente para pedir, nada recebereis.

E se nele entrardes para vos curvar, ninguém vos erguerá.

E mesmo se aí fordes para mendigar favores dos outros, não sereis atendidos.

É bastante que entreis no templo invisível.

Não vos posso ensinar a rezar com palavras.

Deus não escuta vossas palavras, exceto quando Ele próprio as pronuncia através de vossos lábios.

E não vos posso ensinar a oração dos mares e das florestas e das montanhas.

Mas vós que nascestes das montanhas, e das florestas, e dos mares, podeis encontrar suas preces no vosso coração.

E se somente escutardes na quietude da noite, ouvi-los-ei dizendo em silêncio:

“Deus nosso, que és nosso Eu alado, é Tua vontade em nós que quer.

É Teu desejo em nós que deseja.

É Teu impulso em nós que pode transformar nossas noites, que Te pertencem, em dias que também Te pertencem.

Nada Te podemos pedir, pois Tu conheces nossas necessidades antes mesmo que nasçam em nós.

Tu és nossa necessidade; e dando-nos mais de Ti, Tu nos dás tudo.

(Do livro O Profeta, de Gibran Khalil Gibran
 tradução de Mansour Chalita)


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