quarta-feira, 30 de abril de 2014

Sonetos e histórias do Aporelly



O ilustre enfermo

O Pancrácio enfermou. O que é aquilo
Que ele sente, ninguém sabe explicar.
Chora a família. Guarda-se sigilo,
Para o resto do povo não chorar.

Vem o doutor e diz: − “Fique tranquilo!
Não se assuste, que vou já receitar:
Fulminato de sódio: − meio quilo,
Quatro colheres antes do jantar”.

Com a fórmula grandiosa do doutor,
O bom Pancrácio transferiu o enterro,
Pois já está bom e, de contente, pula.

Por esse fato, que acabei de expor,
Eu deduzo com lógica de ferro,
Que um doutor não é burrose formula.

Meu fraque

No guarda-roupa eu tenho um belo fraque,
Meu traje predileto de passeio.
Quando de tarde o visto, até receio
Que a minha namorada se embasbaque.

Quando me quero dar certo destaque,
Vai aos bailes comigo e não faz feio.
Amigo da miséria, resgatei-o
Duas vezes foi ao bric-a-brac.

Um fraque assim no mundo igual não há!
Parece novo, pois ninguém dirá
Que já cinqüenta invernos completou.

Esse meu fraque fica-me tão justo.
Que quando o visto, eu mesmo, às vezes, custo
Acreditar que foi do meu avô...

*****

O homem cumprimentou o outro, no café.
− Creio que nós fomos apresentados na casa do Olavo.
− Não me recordo.
− Pois tenho certeza. Faz um mês, mais ou menos.
− Como me reconheceu?
− Pelo guarda-chuva.
− Mas nessa época eu não tinha guarda-chuva...
− Realmente, mas eu tinha...

O menino, voltando do colégio, perguntou à mãe:
− Mamãe, por que é que pagam o ordenado à professora, se somos nós que fazemos os deveres?




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