EU SEI QUE VOU TE
AMAR...
POR TODA A MINHA VIDA
EU VOU TE AMAR...
NÃO VEM QUE NÃO TEM!
Moro num país tropical, abençoado
por Deus e bonito por natureza. Ó lugar! Ó lugar! Tenho uma casinha lá na
Marambaia: fica na beira da praia, só vendo que beleza. Cuando calienta El sol,
en aquella playa, o Brasil fica vazio na tarde do domingo, Né? Domingo é dia de pescaria, e lá
vou eu, de caniço e samburá. Valha-me Deus, Nosso Senhor do Bonfim! Nunca
jamais se viu tanto peixe assim.
Um belo dia, a gente entende que ficou sozinho, vem a vontade de chorar
baixinho: eu estava à toa na vida, quando o carteiro chegou e o meu nome gritou
com uma carta na mão. Ante surpresa tão rude, nem sei como pude chegar ao
portão. Seu bilhete assim dizia:
– Não posso mais: eu quero é viver na orgia.
Pois é. Falaram tanto, que a
morena foi embora. Disseram que eu voltei, americanizada. Falam de mim, falam
de mim, mas eu não ligo. Só o meu passado foi lama, hoje quem me difama viveu
na lama também. Todos dizem que eu bebo demais, todos dizem que eu falo demais
e que guio meu carro depressa demais, mas sou bem feliz assim; muito mais do
que quem já falou ou vai falar de mim.
E agora? O que será de minha vida
sem o teu amor, da minha boca sem os beijos teus, da minha alma sem o teu
calor? Que será na luz difusa do abajur lilás? Sei lá não sei: sei
lá não sei não. Nosso amor que eu não esqueço, e que teve seu começo numa festa
de São João, morre hoje sem foguete. Ai, que saudade! Que vontade de ver nosso
amor renascer. Volta, querida; os meus braços precisam dos teus, teus abraços
precisam dos meus. Estou tão sozinho. Cara, te voglio tanto bene! Só quero que
você me aqueça neste inverno, e que tudo o mais vá pro inferno.
– Bom dia amigo. Que a paz seja
contigo. Eu vim somente para dizer que te amo tanto que eu vou morrer.
– Ah, já tá naquela de voltar?
Agora fica na tua que é melhor ficar. Porque vai ser fogo me aturar. Vou deitar e rolar.
– A vida é arte do encontro, e há tanto desencontro pela vida...
– Taí. Eu fiz tudo pra você
gostar de mim. Agora reza pro nosso amor, que já chegou, ô ô ô, ao fim. Quem é,
quem é você pra me fazer sofrer assim?
– Ah, se eu soubesse naquele dia
o que eu sei agora! Eu não seria este ser que chora, eu não teria perdido você!
– Ouça, vá viver a sua vida com
outro bem; hoje já cansei de pra você não ser ninguém.
– Daqui pra frente tudo vai ser
diferente!
– Você vai aprender a ser gente?
– You’re the top; you’re the
Tower of Piza.
– Mulher! Ai, ai, mulher! O nosso
amor deu no que deu. Você me abraça, me beija, me xinga, me bota mandinga...
– Hoje eu volto vencida pedir pra
ficar aqui; meu lugar é aqui, faz de conta que eu não saí.
– Helena! Helena! Helena! Eu
ontem cheguei em casa, Helena, te procurei e não te encontrei, fiquei tristonho
a chamar: “Acorda, patativa, vem ouvir o meu cantar!”
– Dá-me tuas mãos: os teus lábios
eu quero beijar onde está, onde está o teu carinho, onde está você?
– Só porque és rica e elegante,
queres que eu seja teu amante? Prefiro as curvas da estrada de Santos.
– Deixa o coração falar também, que ele tem razão demais quando
se queixa; deixa, deixa, deixa!
– Acabou nosso carnaval: pelas
ruas, o que se vê é uma gente sem se ver. Podem me prender, podem me bater,
podem até deixar-me sem comer, que eu não mudo de opinião.
– Eu sei que eu vou te amar...
por toda a minha vida eu vou te amar...
– Sabe você o que é o amor? Não
sabe, eu sei. Sabe andar de madrugada, tendo a amada pela mão. Qual sabe o que,
qual sabe nada, sabe não.
– Se é tarde, me perdoa... é que eu não sabia que você sabia que a vida é tão
boa... Você se lembra da casinha pequenina, onde o nosso amor nasceu? Tinha
um coqueiro ao lado...
– Nem vem que não tem!
– Tu veux ou tu veux pas?
– IF somebody loves you, it’s no
good unless she loves you all the way. Eu agora sou feliz, eu agora vivo em
paz: everybody is talking at me; raindrops keep faling on my head. Agora, deixa
eu bater meu tamborim até chegar meu fim.
– Vem, vem, vem, vem sentir o
calor dos braços meus à procura dos teus.
– Não vou; não vou, que eu não
sou ninguém de ir na conversa de esquecer a tristeza de um amor que passou.
– E agora, o que faço da vida?
Denise vai chorar, vai, vai chorar, dim-dim-dim-dim-dom.
– É só isto o seu baião? Não tem mais nada não? Escuta
esta canção que eu mesmo fiz pensando em ti: foi um rio que passou na minha
vida e o meu coração se deixou levar. Mas agora eu não quero e nem posso, nunca
mais. O que tu me fizeste, amor, foi demais. Arrivederci Roma; good-bye, au
revoir. Adeus amor, eu vou partir. Ouço ao longe um clarim. Pra você que me esqueceu, aquele abraço.
Eu já vou-me embora. Vou ler meu
Pasquim.
Diretor Teatral,
Cenógrafo, Jornalista e Tradutor
* Tabapuã, SP
(06/08/1934)
+ São Paulo, SP
(25/10/1988)
Publicado na edição
nº 57, de julho de 1970, de O Pasquim
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