Cartas do front é uma envolvente
coleção de correspondência trocadas por soldados e civis na linha de frente dos
grandes conflitos da história. Inclui, com exclusividade nesta edição
brasileira, cartas de pracinhas que lutaram na Itália, durante a Segunda Guerra
Mundial. Trata-se de um compêndio de mais pura emoção em meio à tragédia.
Amor
“Preciso para aqui. Não posso escrever mais hoje à noite. Tua foto me
distrai. Olho para ela sem parar, maravilhado, esperando, fantasiando – imaginando
se, sem ti, poderia ser feliz. Escreverei novamente quando me recuperar um
pouco. Enquanto isso, sonharei contigo.”
Do fuzileiro
naval norte-americano Harry Kipp a Norma Clinton. Os dois se apaixonaram
trocando cartas e se casaram quando Kipp voltou aos EUA depois da Segunda Guerra
Mundial.
Horror
“Deparei-me com um de nossos rapazes irreconhecível devido à
decomposição. Ele jazia como caíra – a cabeça desaparecera -, mas todos os equipamentos estavam afivelados no cinto,
e enterramos o que restara dele. Procurei algo que o pudesse identificar, mas
foi em vão. Pobre
rapaz, em algum lar distante no Canadá alguém está chorando a perda do marido,
filho ou namorado. O mais triste de tudo é que jamais saberão como morreu, ou
onde foi enterrado, e, até mesmo agora, podem se apegar à esperança de
ainda esteja vivo...”
Do soldado canadense William Mayse a
sua mulher, durante a Primeira Guerra Mundial.
Humor
“Eu, abaixo assinada, tenho um pedido a lhe fazer. Embora meu marido
esteja em serviço, há apenas quatro meses, gostaria de solicitar que lhe fosse
concedida uma licença, devido à nossa relação sexual.”
De uma
mulher alemã ao comandante de seu marido na Primeira Guerra Mundial.
Desespero
“Toda noite, soldados bêbados vêm e nos batem com pedaços de pau. Meu
corpo está coberto de escoriações como madeira queimada... Outro dia, dois
rapazes escaparam, então os alinharam e cada quinta pessoa da fila foi morta.
Eu não ocupava a quinta posição, mas sei que não sairei vivo daqui.”
De um menino polonês chamado Chaim
– em um campo de concentração alemão – aos seus pais.
– em um campo de concentração alemão – aos seus pais.
O autor
Andrew Carroll é diretor do projeto
norte-americano Legacy, que tem por objetivo procurar conservar
correspondências trocadas com soldados em tempos de guerra. É organizador de
três livros que se tornaram Best-sellers nos Estados Unidos.
* “Cartas no Front – Relatos
emocionantes da vida na guerra” – Jorge Zahar Editor
Carta do Sargento Evgueni Strchurov sobre os
assassinatos na aldeia de Budionovka
“18 de outubro de 1942
Budionovka, minha terra natal... diante dos meus olhos surgem imagens
familiares: casas brancas escondidas na verdura dos cerejais, ruas retilíneas
que descem para o mar. Foi lá que eu nasci, foi lá onde passei a infância e
adolescência. E eis que os jornais me informam sobre os meus compatriotas.
Fiéis às tradições sagradas dos meus avós, os cossacos do Don lutaram
corajosamente contra o inimigo. Os alemães martirizavam os cidadãos soviéticos.
As bestas sanguinárias mataram uma criança de quatro anos; fuzilaram rapazes e
raparigas às dezenas, cujas roupas vendiam ou mandavam para a Alemanha. Os
fascistas fuzilaram Catarina Skoroiedova, o velho Saveli Petrovitch Stepanenko,
o jovem sapateiro Alexandre Iakubenko, Ludmila Tchukanova, de dezessete anos.
Todos são meus conhecidos amigos.
O meu coração está cheio de ódio pelos bárbaros fascistas. O meu único
desejo é vingar a morte dos meus amigos de infância, o sangue dos cidadãos
russos que inundou as ruas da minha aldeia natal. Basta-me fechar os olhos para
ouvir a voz da minha amada, - para ver estender-me os braços, implorando-me
socorro.
Evgueni Stchurov”
Cartas de soldados alemães escritas durante a batalha
em Stalingrado
“Amados pais. Se estão lendo esta carta, é porque ainda temos o aeroporto.
Tenho certeza que esta será a última que seu amado filho lhes escreverá. Temos
russos por todos os lados e não nos mandam ajuda de Berlim. Tenho-lhes uma
triste notícia, Granstsau morreu semana passada. Estava ele, eu e mais três
andando quando simplesmente caiu no chão com a cabeça aberta. Amados pais,
chorei muito ao vê-lo, porque crescemos juntos, lembram-se? Quando éramos
crianças, quebrei a perna, ele me levou a casa nas suas costas com a minha
perna quebrada. Sinto muito pelos pais dele. Perdi meu único amigo. E aqui
haverá o fim. Nosso comandante se matou com um tiro na boca ontem de noite.
Nossa moral não existe mais. Mas espero que essa maldita guerra acabe, pouco me
importa o que aconteça. Se não receberem mais cartas minhas, vão para Espanha o
quanto antes, sabemos que é uma questão de tempo dos russos chegarem em Berlim. Amados
pais, após essa guerra, a Alemanha ficará atônita ao saber que o soldado que
lhes escreve teve a vida salva por um médico judeu. Estou bem dos ferimentos,
mas a cicatriz é enorme e horrível. Amados pais, se cuidem. Se não receberem mais
cartas minhas, vão para Espanha, o dinheiro vocês já tem. Logo estaremos de
novo conversando com Hilse, nos bom tempos dos dias de sol. Com muita devoção,
seu filho querido.”
Fonte: Cartas de
Stalingrado, Coleção Einaudi, 1958.
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