A história por trás da reportagem de O Cruzeiro
Há doze anos, enquanto o Brasil
comemorava o pentacampeonato mundial de futebol, Chico Xavier deixou este
mundo. Mineiro de Pedro Leopoldo, filho de João Cândido Xavier e de Maria João
de Deus, deixou mais de 400 obras psicografadas e 25 milhões de exemplares
vendidos, em mais de 70 anos de atividade.
Um dos mais polêmicos momentos da vida de Chico aconteceu em 1944. A viúva e os três
filhos do escritor Humberto de Campos moveram um ação contra ele. Como
titulares dos direitos autorais, queriam explicações sobre as cinco obras
“ditadas por Humberto Campos a Chico Xavier” sem que eles recebessem nada por
isso.
Se a Justiça negasse a autenticidade
da obra, Chico estaria sujeito a pagar indenização por perdas e danos e poderia
ser preso por falsidade ideológica. Se reconhece as obras como de Humberto de
Campos, estaria atestando a existência de vida após a morte.
A imprensa alimentou o caso e a dupla
mais famosa do jornalismo brasileiro foi até Pedro Leopoldo entrevistar Chico
Xavier. Percebendo que não seriam atendidos, David Nasser e Jean Manzon, de “O
Cruzeiro”, disseram ser jornalistas estrangeiros para conseguir a matéria. Se
os espíritos existissem, avisariam Chico da farsa.
Ao final do encontro, Chico
autografou alguns livros com os quais presenteou os repórteres. Feito o
serviço, trataram de sair logo da cidade. A matéria tomou 10 páginas da edição
de 12 de agosto de 1944. Chico ficou apavorado. Aquilo poderia prejudicá-lo
ainda mais.
Trinta anos depois, em uma entrevista
ao jornal carioca “O Dia”, David Nasser definiria Chico Xavier como “o maior
remorso da minha vida”. Ele contou que dois dias depois do encontro, enquanto
escrevia a matéria, já de madrugada, Jean Manzon ligou para ele:
- David,
você trouxe aquele livro que o homem nos ofereceu?
- Claro que sim.
- Pois bem, abra-o na
primeira página e leia a dedicatória.
O jornalista
correu para o livro e leu: “Ao irmão David Nasser, oferece Emmanuel.”
Segundo Nasser, ele, Manzon e o
motorista fizeram um pacto de silêncio sobre o episódio e a matéria foi
publicada sem que a dedicatória do guia espiritual de Chico Xavier fosse
mencionada.
P.S. Jean Manzon, que era francês
e falava bem o português, mas com forte sotaque, apresentou-se com jornalista
francês e David Nasser como sendo um repórter americano, mas foram
desmascarados por um guia espiritual.
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