Millôr Fernandes
Tinha no nome seu destino
líquido:
mar, rio e lago.
Pois chamava-se Mário Lago.
Viu a luz sob o signo de
Peixes.
Brilhava no céu a constelação
de Aquário.
Veio morar no Rio.
Quando discutia, sempre
levava um banho.
Pois era um temperamento
transbordante.
Sua arte preferida:
água-forte.
Seu provérbio predileto:
“Quem tem capa, escapa”.
Sua piada favorita: “Ser como
o rio: seguir o curso sem deixar o leito”.
Pois estudava: engenharia
hidráulica.
Quando conheceu uma moça de
primeira água.
Foi na onda.
Teve que desistir dos estudos
quando estava na bica para se formar.
Então arranjou um emprego em
Ribeirão das Lajes.
Donde desceu até ser
leiteiro.
Encarregado de pôr água no
leite.
Ficou noivo e deu à moça uma
água marinha.
Mas ela o traiu com um
escafandrista.
E fugiu sem dizer água vai.
Foi aquela água.
Desde então ele só vivia na
chuva
Virou pau de água.
Portanto, com hidrofobia.
Foi morar numa água furtada.
Deu-lhe água no pulmão.
Rim flutuante.
Água no joelho.
Hidropsia.
Bolha d'água.
Gota.
Catarata.
Morreu afogado.
Haikais
há
colcha mais dura
que
a lousa
da
sepultura?
Na
poça da rua
O
vira-lata
Lambe
a Lua.
Com
que habilidade
Você
estraga
Qualquer
felicidade!
Nos
dias quotidianos
É
que se passam
Os
anos.
Esnobar
É
exigir café fervendo
E
deixar esfriar.
Aniversário
é uma festa
Pra
te lembrar
Do
que resta.
Olha,
Entre
um pingo e outro
A
chuva não molha.
Não
é segredo.
Somos
feitos de pó, vaidade,
E
muito medo.
No
falecimento
Lenço
grande demais
Pro
sentimento.
Eremita,
me afundo
No
deserto, pra ser
O
centro do mundo.
O
desenvolvimento cerebral
Nunca
se compara
Ao
abdominal
O QUE É HAICAI
Haicai é um poema de origem
japonesa, que chegou ao Brasil no início do século 20 e hoje conta com muitos
praticantes e estudiosos brasileiros. No Japão, e na maioria dos países do
mundo, é conhecido como haiku.
Segundo Harold G. Henderson,
em Haiku in English, o haicai clássico japonês obedece a quatro regras:
→ Consiste em 17 sílabas
japonesas, divididas em três versos de 5, 7 e 5 sílabas.
→ Contém alguma referência à
natureza (diferente da natureza humana).
→ Refere-se a um evento
particular (ou seja, não é uma generalização).
→ Apresenta tal evento como “acontecendo
agora”, e não no passado.
(Do Blog Caqui)
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