O samba corria solto em uma das
esquinas da Rua Dona Vicência, no bairro de Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio,
quando o sargento Vésper chegou. De cara fechada, o policial encarou o grupo de
rapazes que batucava.
− Alô,
seus vagabundos! Vou ali embaixo e quando voltar não quero mais ver essa
pouca-vergonha aqui. Se ainda tiver samba, eu vou sentar o cacete! − sentenciou.
O episódio, ocorrido na década de
1940, contado por um dos sambistas reprimidos pelo sargento: Monarco, hoje com
86 anos, compositor portelense, autor de algumas das composições mais bonitas
da música brasileira, conta: “Nós éramos discriminados. Vi muito sambista ser
preso só porque tinha na mão um pandeiro”.
A música faz uma dura crítica a repressão da
polícia do governo de Vargas contra os sambistas, que eram vistos como
marginais e apanhavam sem motivos. A censura e a repressão são características
de uma ditadura, o que era na época da música (por volta de 1940).
Delegado Chico Palha
Nilton Campolino e
Tio Hélio,
composto em 1938.
Delegado Chico Palha,
Sem alma, sem coração,
Não quer samba nem curimba
Na sua jurisdição.
Ele não prendia,
Só batia. (bis)
Era um homem muito forte,
Com um gênio violento.
Acabava a festa a pau,
Ainda quebrava os instrumentos.
Ele não prendia,
Só batia. (bis)
Os malandros da Portela,
Da Serrinha e da Congonha,
Pra ele eram vagabundos
E as mulheres sem-vergonha.
Ele não prendia,
Só batia. (bis)
A curimba ganhou terreiro
O samba ganhou escola.
Ele, expulso da Polícia,
Vivia pedindo esmola.
Ele não prendia,
Só batia. (bis)
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