sábado, 29 de junho de 2019

Vargas Netto

Um poeta regionalista gaúcho


Manuel do Nascimento Vargas Netto (São Borja, 30 de janeiro de 1903 − Rio de Janeiro, 1977 − carece de fontes − foi um poeta, jornalista e radialista brasileiro.

Formou-se em Direito. Exerceu o jornalismo em Porto Alegre e no Rio de Janeiro. Foi o poeta regionalista mais expressivo do Rio Grande do Sul. Deputado Federal e Procurador do Estado do Rio de Janeiro. Durante oito anos foi Vice-Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro. Foi Presidente de Honra da Estância da Poesia Crioula e Membro Efetivo da Academia Rio-grandense de Letras. Foi considerado o Príncipe dos Poetas Tradicionalistas. Obras Principais: Tropilha Crioula – versos gauchescos. Joá – poemas. Gado Chucro – versos gauchescos. Tu – versos. General Vargas – resenha. Poemas Farrapos – álbum de poesias.

Oriundo da família Vargas: o pai Viriato Dornelles Vargas foi prefeito de São Borja de 1911 a 1915, o tio Getúlio Vargas foi presidente do Brasil entre 1930 e 1945 e 1951 a 1954, realizou os estudos primários em sua cidade natal, cursando o secundário no Ginásio Júlio de Castilhos, na capital do estado. Em 1927 bacharelou-se em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito de Porto Alegre.

Farrapo


Esfarrapado senhor do seu desuno!
Nobre esbanjador da coragem!
Milionário dos impulsos generosos!
Pródigo do amor! Perdulário da fé!

Tua carne se esfarrapou como a tua roupa...
Teu sangue rolou como a água da chuva,
Empapando o coração de tua gleba
E fertilizando a liberdade no teu pago!
Mas a tua alma continuou inalterável,
clara e vibrante como uma adaga de prata,
no pulso firme da tua vontade!

Vibraste pela glória de ser livre,
pela ventura de ser forte, leal e bom...
Foste tão generoso para a vida de tua ideia
que nunca lhe regateaste a paz do teu rancho
nem a vida do teu corpo!...

E morreste, como Deus quis,
no grande leito do campo!
Teu coração deu o último latido
sobre o chão da tua querência...
Face a face com o mesmo céu,
que doirou as tuas vitórias
no velho ouro do sol,
e, depois, te amortalhou naquele veludo imortal
de uma noite profunda do pampa!

Adaga


Velha adaga de prata, alma de aço,
que autorizaste altaneria e desafio,
toste a continuação atrevida de algum braço...
Mas naquela mão firme
em que tu foste ameaça
nunca mais te agitarás!...

Eras a amiga fiel de horas amargas,
que nas cargas e entreveres te luzias,
a servidora sem descanso e sem fadiga
quando trazias o teu gume afiado
e a ponta como a cara do perigo!...

Terias servido ao bem como ao pecado?!...
Mas» como adivinhar adaga nua?!
Pulaste tantas vezes da bainha,
que esta afinal se perdeu de desprezada,
pela incerteza de servir-te ainda!...

O S do teu punho é afirmativo
− prata golpeada que já nem branqueja −
como a inicial de um Sempre ou de um Sim
conjugando o verbo Ser do teu destino
resolutivo e fatalista como um Seja!...

Carreteiro


Carreteiro é a paciência caminhante!
Jamais na vida soube o que era pressa!
Ao passito desceu pelo lançante...
Ao passito a subida ele começa...

Sempre ao passito, vai seguindo adiante...
A vida toda leva a viajem essa!
Sob o sol quente ou sob o frio cortante,
Segue assim, sempre assim, nunca se apressa.

Leva n'alma gemidos de carreta...
E é impassível, por mau ou por bondade,
Embora a desventura lhe acometa.

Nesse viajar sem fim, que ele não sente,
Lembra a viajem constante da saudade,
Carregando passado pra o presente.

*****


Retrato de Vargas Netto pintado por Cândido Portinari − 1941

Versos de Vargas Netto

Você pensa que é mentira,
Mas eu lhe digo que não,
Ouvindo falar nos pagos
Sinto dor no coração.

Diz que não chora o gaúcho,
Pois eu lhe garanto agora,
Fale dos pagos distantes
Vamos ver se ele não chora.

Quando me lembro, la pucha,
Da china que deixei lá,
Sinto um repucho por dentro
Que nem sei o que será.

É como um tirão “de atrás”,
Quando se pega a carreira,
Dum sovéu de três ramais
Atado numa tronqueira.

Não há gaúcho mais qüera
Que não conheça o tirão,
Porque essa história é tão velha
Que tem a idade do chão.



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