sexta-feira, 21 de junho de 2019

O Destino

(À maneira dos… coreanos)


Encontraram-se dois chineses

− Olá, Shen-Tau, por onde andou?

− Ah, passei seis meses no hospital, Shin-Fon.

− Eh, isso é mau!

− Nada. Isso é bom: casei com uma enfermeira bacaninha.

− Ah, isso é bom!

− Que o quê − isso é mau. Ela tem um gênio dos diabos.

− É, isso é mau.

− Não, não, isso é bom; o avô dela deixou uma herança e eu não preciso trabalhar porque ela acha que só eu sei cuidar do gênio dela.

− Oh, oh, isso é que é bom!

− Oh, oh, isso é que é mau! Com o gênio dela, às vezes não me dá um níquel. E como eu não trabalho, não tenho o que comer.

− Xi, isso é mau!

−Engano, isso é bom. Eu estava ficando gordo e mole − vê só, agora, o corpinho com que eu estou.

− É mesmo − isso é bom!

− Que bom! Isso é mau. As pequenas não me deixam e acabei gostando de outra.

− Êpa, isso é mau mesmo.

− Mau nada, isso é bom. Essa outra mora num verdadeiro palácio e me trata como um príncipe.

− Então isso é bom!

− Bom? Isso é mau: o palácio pegou fogo e foi tudo embora.

− Acha que isso é realmente mau?

− Mau nada: isso é bom. O palácio pegou fogo porque minha mulher foi lá brigar com a outra, virou um lampião e as duas morreram no incêndio. E fiquei rico e só.

− Isso… é bom… ou é mau, Shen-Tau?

− Isso é muito bom, Shin-Fon.

*****

(Do livro “Fábulas Fabulosas”, de Millôr Fernandes) 

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