(À maneira dos… coreanos)
Encontraram-se dois chineses
− Olá, Shen-Tau, por onde andou?
− Ah, passei seis meses no
hospital, Shin-Fon.
− Eh, isso é mau!
− Nada. Isso é bom: casei com uma
enfermeira bacaninha.
− Ah, isso é bom!
− Que o quê − isso é mau. Ela tem
um gênio dos diabos.
− É, isso é mau.
− Não, não, isso é bom; o avô
dela deixou uma herança e eu não preciso trabalhar porque ela acha que só eu
sei cuidar do gênio dela.
− Oh, oh, isso é que é bom!
− Oh, oh, isso é que é mau! Com o
gênio dela, às vezes não me dá um níquel. E como eu não trabalho, não tenho o
que comer.
− Xi, isso é mau!
−Engano, isso é bom. Eu estava
ficando gordo e mole − vê só, agora, o corpinho com que eu estou.
− É mesmo − isso é bom!
− Que bom! Isso é mau. As
pequenas não me deixam e acabei gostando de outra.
− Êpa, isso é mau mesmo.
− Mau nada, isso é bom. Essa
outra mora num verdadeiro palácio e me trata como um príncipe.
− Então isso é bom!
− Bom? Isso é mau: o palácio
pegou fogo e foi tudo embora.
− Acha que isso é realmente mau?
− Mau nada: isso é bom. O palácio
pegou fogo porque minha mulher foi lá brigar com a outra, virou um lampião e as
duas morreram no incêndio. E fiquei rico e só.
− Isso… é bom… ou é mau,
Shen-Tau?
− Isso é muito bom, Shin-Fon.
*****
(Do livro “Fábulas
Fabulosas”, de Millôr Fernandes)
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