Um amigo descobriu uma foto de Nestor
ainda meninote e, sem o médico saber, foi à Livraria do Globo, combinando com
um dos Bertaso publicá-la na Revista do Globo, na seção de registros sociais. Afinal,
assim saiu no nº 257 da revista, de 22-8-1939, como se o “interessante e
ganancioso menino” não fosse, na ocasião, um homem de quase quarenta anos.
Médico radiologista de renome, bondoso,
culto, estimadíssimo pelos amigos e familiares, o Dr. Nestor Barbosa, além de
tudo, possuía características bem marcantes: era um grande brincalhão. Tinha
como passatempo predileto pregar peças, a cuja montagem dedicava-se com método
e paciência, demonstrando sempre inteligência criativa e capacidade de pressentir
as reações das pessoas.
Foi, seguramente, o maior trotista
telefônico que a cidade conheceu. Mais episódios seus talvez não sejam
conhecidos justamente porque buscava, quando possível, o anonimato. Mantinha
concorrido instituto de radiologia na sobreloja da galeria Chaves, cujas
janelas davam frente par a Rua da Praia.
Em determinada época, antes da
Segunda Guerra Mundial, o médico ligava, sempre no meio da tarde, para o velho
Costa Dias, português amável, mas exaltado, dono de bem sortido e movimentado
armazém na esquina da Rua de Bragança (hoje Marechal Floriano) com Jerônimo
Coelho. O comerciante atendia e Nestor, variando a voz, questionava sobre o
estoque, demonstrando intenção de compras volumosas; até que, depois de alguns
rodeios cada dia mais sofisticados, terminava perguntando se o seu Costa tinha, ou se já chegara,
aquela linguiça crioula, bem grossa, especial. O português, zonzo com grande
movimento daquela hora, sistematicamente e desavisadamente caía no logro,
respondendo que tinha, sim, ou que recebera.
− Então enfia no cu − dizia Nestor. E
desligava.
Assim era todos os dias.
No instituto de radiologia, todo fim
de tarde, costumavam encontrar-se, nas horas de folga, os médicos da galeria.
Numa dessas reuniões, Nestor foi aos poucos dirigindo o papo para os bons
fornecedores de carne para churrasco. Conversa vai, conversa vem, confidenciou
a um colega presente que a melhor linguiça da cidade era uma crioula, bem
grossa, fornecida pelo armazém do Costa Dias. Como o outro demonstrasse interesse
em comprá-la, Nestor recomendou-lhe que telefonasse em hora de pouco movimento
e falasse com o próprio português, identificando-se antes, pois a freguesia da
linguiça era selecionada.
O companheiro agiu exatamente como o
sugerido e, sem entender nada, levou tremenda descompostura...
(Do livro “Anedotário
da Rua da Praia 1” ,
de Renato Maciel de Sá Júnior)
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