Romance Policial
Cláudio Vieira
O delegado estava uma pilha de
nervos. A situação do Dr. Malagueta − um dos executivos mais respeitados do
país − deixara-o com os nervos à flor da pele. Telefonava de 10 em 10 minutos
para saber do estado do notável.
− Alô? É da Clínica Luxuria's? Por
gentileza, quero falar com o acompanhante do Dr. Malagueta, na suíte
presidencial.
A
telefonista queria saber quem era, o que deixou o delegado enfezado:
− Aqui é o Dr. Prestes Pestanna. Faça
a comunicação imediatamente sob a pena de estar obstruindo os trabalhos da
polícia!
Na suíte, o
acompanhante atendeu:
− Comandante Perácio falando.
− Olá, comandante, aqui é o
delegado Prestes Pestanna.
− De novo?! − irritou-se o
chefe de polícia da capital.
− Perdoe-me, comandante. Mas toda a
polícia está preocupada com o estado emocional do Dr. Malagueta. Como ele está
se recuperando?
− Muito bem,
delegado. De vez em quando ainda pensa nos tiros que deu, mas isso passa.
− Sei que o senhor está fazendo
o possível e o impossível. Diga-me: o Dr. Malagueta ainda está no soro, sob
efeito de sedativos?
− Não, hoje de manhã já
apresentou sinais de melhora.
− Saiu do soro?
− Saiu da suíte, delegado!
− Uau! Benza Deus!
O comandante eufórico:
− Hoje cedo, nadou na piscina
olímpica; depois fez uma boa caminhada e agora está treinando golfe.
− Que
maravilha! Pelo visto, está superando o trauma com muita facilidade.
O comandante, orgulhoso do
notável:
− O senhor precisa ver. Já está
ouvindo música...
− ... de fossa?! − interrompeu
Prestes Pestanna.
− Nada! Ouviu pagode, rock,
músicas bem alegres. Deu até uma sambadinha.
− Como o Barrichelo?
O comandante riu:
− Não, ele leva mais jeito. Mas essa
estada aqui está lhe fazendo muito bem. Vai sair uns 30 anos mais moço.
− Deus o
ouça, comandante. Dr. Malagueta é uma pessoa muito querida.
− E importante, meu bom
delegado. Um dos homens mais íntegros desse país.
− Ora, tão íntegro que não precisa
fugir, como tantos outros que existem por aí. Mas, vamos falar de coisas
boas... o que ele vai fazer hoje à tarde? Fisioterapia?
− Acho que
esqui aquático.
− Que vitalidade, meu
comandante!
No meio da conversa, um
detetive bateu na porta do gabinete e interrompeu o delegado:
− Dá licença, doutor?
Dr. Prestes Pestanna pediu licença ao
comandante, abafou o fone e virou-se para o subalterno:
− Fala,
Valdir.
− É o seguinte: pegamos o
pedreiro que encheu a mulher de tiros.
− Boa! Enfia a porrada no filho da p... e
joga ele no ninho de ratos.
− Mas ele já confessou o crime,
doutor.
− Não tem problema, Valdir.
Agora ele vai confessar os detalhes.
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