sexta-feira, 31 de maio de 2019

Preocupações desiguais


Romance Policial

Cláudio Vieira
  
  
O delegado estava uma pilha de nervos. A situação do Dr. Malagueta − um dos executivos mais respeitados do país − deixara-o com os nervos à flor da pele. Telefonava de 10 em 10 minutos para saber do estado do notável.

− Alô? É da Clínica Luxuria's? Por gentileza, quero falar com o acompanhante do Dr. Malagueta, na suíte presidencial.

A telefonista queria saber quem era, o que deixou o delegado enfezado:

− Aqui é o Dr. Prestes Pestanna. Faça a comunicação imediatamente sob a pena de estar obstruindo os trabalhos da polícia!

Na suíte, o acompanhante atendeu:

− Comandante Perácio falando.

− Olá, comandante, aqui é o delegado Prestes Pestanna.

− De novo?! − irritou-se o chefe de polícia da capital.

− Perdoe-me, comandante. Mas toda a polícia está preocupada com o estado emocional do Dr. Malagueta. Como ele está se recuperando?

− Muito bem, delegado. De vez em quando ainda pensa nos tiros que deu, mas isso passa.

− Sei que o senhor está fazendo o possível e o impossível. Diga-me: o Dr. Malagueta ainda está no soro, sob efeito de sedativos?

− Não, hoje de manhã já apresentou sinais de melhora.

− Saiu do soro?

− Saiu da suíte, delegado!

− Uau! Benza Deus!

O comandante eufórico:

− Hoje cedo, nadou na piscina olímpica; depois fez uma boa caminhada e agora está treinando golfe.

− Que maravilha! Pelo visto, está superando o trauma com muita facilidade.

O comandante, orgulhoso do notável:

− O senhor precisa ver. Já está ouvindo música...

− ... de fossa?! − interrompeu Prestes Pestanna.

− Nada! Ouviu pagode, rock, músicas bem alegres. Deu até uma sambadinha.

− Como o Barrichelo?

O comandante riu:

− Não, ele leva mais jeito. Mas essa estada aqui está lhe fazendo muito bem. Vai sair uns 30 anos mais moço.

− Deus o ouça, comandante. Dr. Malagueta é uma pessoa muito querida.

− E importante, meu bom delegado. Um dos homens mais íntegros desse país.

− Ora, tão íntegro que não precisa fugir, como tantos outros que existem por aí. Mas, vamos falar de coisas boas... o que ele vai fazer hoje à tarde? Fisioterapia?

− Acho que esqui aquático.

− Que vitalidade, meu comandante!

No meio da conversa, um detetive bateu na porta do gabinete e interrompeu o delegado:

− Dá licença, doutor?

Dr. Prestes Pestanna pediu licença ao comandante, abafou o fone e virou-se para o subalterno:

− Fala, Valdir.

− É o seguinte: pegamos o pedreiro que encheu a mulher de tiros.

− Boa! Enfia a porrada no filho da p... e joga ele no ninho de ratos.

− Mas ele já confessou o crime, doutor.

− Não tem problema, Valdir. Agora ele vai confessar os detalhes.



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