domingo, 19 de maio de 2019

O soldado Fabino



Fabino era um soldado bajulador. Todos o detestavam por isso. Ficava sempre perto do comandante, tentando adivinhar do que ele precisava, o que ele queria, para que ele, Fabino, pudesse providenciar. Esse comportamento seria aceitável se ele não colocasse os colegas em apuros sempre que podia, para se promover junto ao comandante. E aí veio o acampamento. Fabino conseguiu, usando o nome do comandante, que sua barraca ficasse junto a dele de modo a poder atendê-lo mais prontamente. E ouviu o comandante dizer que precisava de dez folhas de cartolina, de diversas cores, para uma exposição que faria aos oficiais e sargentos, naquela tarde. Fabino sabia que seria impossível, naquele mato, conseguir o papel, mas logo se apresentou para cumprir a missão e conseguir realizar a proeza. Como, ele descobriria mais tarde. O importante era agradar o comandante.

Saiu então em busca de um motorista e de um jeep, sempre falando em nome do seu chefe. Conseguiu. O soldado falou que não guiava bem, que o jeep não estava funcionando direito e que não conhecia nada daquela região. Fabino ignorou a ojeriza demonstrada pelo soldado e disse que era ordem do comandante e partiram.

Se embarafustaram por estradinhas e estradas “projetadas”, até alcançar uma rodovia de verdade. Fabino escolheu uma direção e rumaram pra lá. Deveria haver uma vila, uma cidade, onde pudesse comprar o papel. Acharam a pequena vila um bom tempo depois de rodarem pela estrada e Fabino começou a ter dúvidas se saberia voltar ao acampamento. Conseguiu achar um armarinho e lá comprou as folhas de cartolina, de cores variadas. Dispensando que fossem embrulhadas, pulou para jeep e mandou que o motorista pisasse fundo. Mal retomaram a rodovia, o carro parou, enguiçado. “Você sabe alguma coisa de mecânica?”, perguntou ao motorista. “Nadinha, nadinha!” − respondeu o soldado, rindo por dentro.

Fabino colocou os papéis debaixo do braço e se virou para o soldado: “caso você conserte o jeep, me alcance, vou seguir a pé ou de carona, até chegar ao acampamento”. Dito isso, partiu resoluto. Em sua mente, via o comandante sorrindo, ao vê-lo chegar com as folha de cartolina. Que sucesso! Achou uma estradinha e entrou por ela, achando-a familiar. Seguiu achando que ela fazia uma curva e andou, andou. Com o tempo nublado, não tinha certeza sequer da direção. Tinha apenas a esperança de dar de cara com as barracas. Mas que nada. Depois de quase duas horas de caminhada viu ao longe, à sua frente, a rodovia. Lá estava o jeep e o soldado tentando fazê-lo funcionar. Viu o carro finalmente se movendo e gritou, mas não foi ouvido e seu passaporte para o acampamento seguiu adiante. Teve vontade de chorar. Não vira carro algum passando por ali, o tráfego era mínimo. Sentou-se num barranco e pensou: o que mais poderia dar errado?
  
Aí, começou a chover. Forte.

Clarival Vilaça


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