Médico aposentado, Roberto Pellin
morreu sábado, 09.09.2010, aos 87 anos, vítima de um ataque cardíaco, em Porto Alegre. Formado
em História Natural
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), lecionou na
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde se formou em Medicina.
Natural de Porto Alegre, morou em Santa Maria até 1965, quando
voltou para a cidade natal e para o bairro onde nasceu e cresceu, a Tristeza.
Quando criança, trabalhou nas pedreiras dos tios para poder estudar e, desde
essa época, já dizia que seria médico.
Até pouco tempo, escrevia
crônicas no jornal do bairro sobre as famílias e a história da Tristeza,
fazendo ele próprio as entrevistas com os moradores. Em 1979, sentiu a
necessidade de deixar para as gerações futuras a história do bairro e lançou o
livro “Revelando a Tristeza”, que teve seu segundo volume lançado por ele em
1996.
Viúvo de Leontina Silvana Pellin, deixa um filho, José Osvaldo, nora e os netos Rafael e Juliana.
*Não da amargura, mas do bairroTristeza...
Comunidade da Tristeza cria Instituto Roberto Pellin
Em 14 de outubro de 2005, no
salão paroquial da Igreja Nossa Senhora das Graças, foi realizado o ato de
instalação do Instituto Cultural e Educacional Dr. Roberto Pellin, uma entidade
que se destina a resgatar a memória histórica da região. A iniciativa do Centro
Comunitário de Desenvolvimento da Tristeza, Pedra Redonda, Vila Assunção e
Conceição (CCD) é um antigo anseio dos moradores e homenageia o ilustre médico
e morador que resgatou a história do bairro Tristeza com o lançamento dos dois
volumes da obra “Revelando a Tristeza”.
O Arrabalde da Tristeza
Prédio do antigo
Hotel da Praia
No início do século XX, época em
que o Arrabalde da Tristeza ficava muito longe do centro da cidade, vários
hotéis surgiram por lá. Segundo o cronista Roberto Pellin, o porto-alegrense
fugia do centro e se dirigia até o fim da linha do bonde Teresópolis (puxado a
burros até 1908), ou o do trem, na estação da Cantina (hoje entrada da Vila
Assunção). Desses pontos eram levados à praia pelos breques (quatro rodas,
tolda e dois cavalos) ou pelas aranhas (charretes).
Em 1904, foi construído um hotel de alvenaria com dois andares na praia da rua
Doutor Mario Totta. Era o moderno Hotel da Praia. Este prédio foi comprado
pelas Irmãs do Sagrado Coração em 1908, que ali instalaram um colégio, mais tarde
destruído por um incêndio.
Em 1940, a
área foi adquirida pelo Banrisul para a construção de um Cassino. Com a
proibição dos jogos de azar, transformou-se na colônia de férias dos
funcionários do banco (Banricap). Hoje abriga o Centro de Treinamento da
Procergs.
Foto: Museu Banrisul - Antigo
Cassino Banrisul, rua Doutor Mario Totta, bairro Tristeza, década de 1940
(acervo Porto História PH/Banrisul: o nosso banco).
Do Blog Porto
História PH
P.S. A Rua Doutor Mário Totta, na zona sul de Porto
Alegre, tinha se transformado numa passarela de craques naquele abril de 1969. A estada da Seleção
Brasileira na sede campestre que ficava às margens do Guaíba alterou a rotina
da vizinhança, especialmente pela presença de policiais, que impediam o acesso
ao local da concentração, o Hotel da Praia.
No ano seguinte, a Seleção Brasileira iniciou a preparação
para a Copa do Mundo do México em um amistoso no dia 4 de março de 1970 contra
a Argentina.
O jogo foi disputado no Estádio
Beira Rio, em Porto
Alegre , com um público de 69. 345 pagantes. João Saldanha,
que classificara o Brasil para o Mundial, fez algumas alterações na equipe, e o
resultado não foi dos melhores.
Com gols no segundo tempo, a
Argentina venceu por 2 a
0. Quatro dias depois, o Brasil foi à forra e derrotou os argentinos por 2 a 1, no Maracanã. Mas a
vitória não foi suficiente para manter João Saldanha no cargo, demitido e
substituído por Zagalo.
Cine−Thetro Gioconda, o cinema da Tristeza
Cartaz do Cine-Theatro Gioconda
com a programação de 1924, juntado como prova em processo judicial de 1927. O
cinema funcionava numa casa alugada por Manoel Rodrigues Filho e João
Pellegrino no arrabalde da Tristeza, onde também havia um bar com mesa de
bilhar.
Imagem: acervo do Memorial da Justiça Federal do RS
No cartaz há o seguinte texto: “O
único cinema deste bairro que apresenta ao público as maiores novidades
cinematographicas! Os verdadeiros filmes de sucesso, FORAM, É, E SERÃO exibidos
unicamente no preferido e popular CINEMA GIOCONDA.”
P.S. Hoje, no local que, depois de
ser cinema, estúdio de filmagem do falecido cantor nativista Teixeirinha, e Caixa
Econômica Federal, está loja TAQUI.
(Do Blog Porto História
PH)
A Tristeza nunca foi triste
Gastão Loureiro
Chaves
Baile de Carnaval da
Sociedade União Padeiral, em 1929 –
foto retirada do
livro Revelando a Tristeza, de Roberto Pellin
Talvez para desmentir o nome
lendário, com diversas versões. Em eras passadas, núcleo populacional pequeno,
havia muita integração social, por meio das reuniões familiares. Funcionava
também como elemento aglutinador um cinema − o Gioconda, em um amplo prédio
ainda existente ao lado do supermercado Nacional, na Avenida Wenceslau Escobar,
atualmente desocupado.
Existiam, então, entre outras,
duas sociedades rivais: Jocotó e Filosofia. A primeira, mais despojada e
foliona. A segunda, mais elitista e restrita. A Filosofia era presidida pelo
Dr. Armando Barbedo, e o Jocotó, pelo Dr. Mário Totta - ambos renomados médicos
que, mais tarde, vieram dar seus nomes às ruas onde moravam e que até hoje são
mantidos.
O Dr. Mário Totta era uma pessoa
extrovertida, muito alegre e jovial, sempre à frente dos acontecimentos
singulares do arrabalde. Assim, quando foi introduzida no bairro a luz
elétrica, promoveu o festivo funeral do lampião. Os bailes de carnaval eram
efetuados, quase sempre, pelo Jocotó no cinema Gioconda, e os da Filosofia no
Theatro São Pedro, no centro da cidade, cujas plateias eram removidas para a
execução dos folguedos carnavalescos.
Estes eram antecedidos por uma
preparação, os chamados 'assaltos' às residências dos veranistas. Em data
previamente acertada, os 'cordões', formados por pares, geralmente de
namorados, invadiam as moradas dos assaltados, onde eram recebidos com 'comes e
bebes', e, por algumas horas, ficavam evoluindo, dançando e cantando, ao ritmo
de improvisados conjuntos.
Na noite do respectivo baile de
Carnaval, antes de iniciá-lo, cada sociedade realizava um corso, em carros
abertos, precedido por cavalarianos que tocavam clarins pelas ruas centrais da
Capital. Os cordões, em uma sadia emulação, se esmeravam na criatividade e no
aprimoramento das fantasias e, no decorrer dos bailes, se visitavam
reciprocamente.
O entusiasmo e a animação eram
extravasados por canções, confete, serpentina e lança-perfume. Este de livre
uso, eis que não ocorrera ainda o desvirtuamento, que levou à sua proibição.
Tudo era, apenas e tão somente, alegria espontânea, sem malícia ou qualquer
perversão ou desvio.
Ocorriam ainda durante os
folguedos carnavalescos banhos à fantasia no Guaíba, em que os veranistas
utilizavam as mais estranhas vestimentas e disfarces, em meio a hilariantes
momices e trejeitos. Assim foi a Tristeza na época do Carnaval.
*Gastão Loureiro Chaves -
advogado aposentado que mora na Tristeza - e foi originalmente publicado no
caderno ZH Zona Sul de 9 de fevereiro de 2007.
As “baratinhas” na Tristeza
O 8º Circuito da Pedra Redonda foi
realizado em julho de 1957 e teve como vencedor o campeão argentino Juan
Gálvez, com velocidade média de 136,32 km/h . Sua carretera Ford cupê 1939
pesava 350 kg
a menos que as demais. Os irmãos Júlio e Catharino Andreatta foram,
respectivamente, o segundo e o terceiro colocados. A partir de então, os
pilotos brasileiros adotaram os novos princípios da preparação argentina.
Na categoria “sport”, para veículos com motores de até 2.000 cm3, participaram automóveis das marcas Simca, Volkswagen, Citroen, Borgward, DKW, Renault e Austin. (Paulo Scali/Circuitos de rua: 1908-1958)
Foto: autor desconhecido – Um momento da prova realizada em 1957 no Bairro Pedra Redonda, zona sul de Porto Alegre. (Acervo Porto História PH/Circuitos de rua: 1908-1958)
P.S. A foto é do final da avenida
Wenceslau Escobar, descendo para a Pedra Redonda e início da avenida Coronel
Marcos.
Do Blog Porto História PH
Bonita a história desse Bairro.
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