sexta-feira, 24 de maio de 2019

Roberto Pellin, o historiador da Tristeza*



Médico aposentado, Roberto Pellin morreu sábado, 09.09.2010, aos 87 anos, vítima de um ataque cardíaco, em Porto Alegre. Formado em História Natural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), lecionou na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde se formou em Medicina.

Natural de Porto Alegre, morou em Santa Maria até 1965, quando voltou para a cidade natal e para o bairro onde nasceu e cresceu, a Tristeza. Quando criança, trabalhou nas pedreiras dos tios para poder estudar e, desde essa época, já dizia que seria médico.

Até pouco tempo, escrevia crônicas no jornal do bairro sobre as famílias e a história da Tristeza, fazendo ele próprio as entrevistas com os moradores. Em 1979, sentiu a necessidade de deixar para as gerações futuras a história do bairro e lançou o livro “Revelando a Tristeza”, que teve seu segundo volume lançado por ele em 1996.

Viúvo de Leontina Silvana Pellin, deixa um filho, José Osvaldo, nora e os netos Rafael e Juliana.

*Não da amargura, mas do bairroTristeza...

Comunidade da Tristeza cria Instituto Roberto Pellin

Em 14 de outubro de 2005, no salão paroquial da Igreja Nossa Senhora das Graças, foi realizado o ato de instalação do Instituto Cultural e Educacional Dr. Roberto Pellin, uma entidade que se destina a resgatar a memória histórica da região. A iniciativa do Centro Comunitário de Desenvolvimento da Tristeza, Pedra Redonda, Vila Assunção e Conceição (CCD) é um antigo anseio dos moradores e homenageia o ilustre médico e morador que resgatou a história do bairro Tristeza com o lançamento dos dois volumes da obra “Revelando a Tristeza”.

O Arrabalde da Tristeza


Prédio do antigo Hotel da Praia

No início do século XX, época em que o Arrabalde da Tristeza ficava muito longe do centro da cidade, vários hotéis surgiram por lá. Segundo o cronista Roberto Pellin, o porto-alegrense fugia do centro e se dirigia até o fim da linha do bonde Teresópolis (puxado a burros até 1908), ou o do trem, na estação da Cantina (hoje entrada da Vila Assunção). Desses pontos eram levados à praia pelos breques (quatro rodas, tolda e dois cavalos) ou pelas aranhas (charretes).

Em 1904, foi construído um hotel de alvenaria com dois andares na praia da rua Doutor Mario Totta. Era o moderno Hotel da Praia. Este prédio foi comprado pelas Irmãs do Sagrado Coração em 1908, que ali instalaram um colégio, mais tarde destruído por um incêndio.

Em 1940, a área foi adquirida pelo Banrisul para a construção de um Cassino. Com a proibição dos jogos de azar, transformou-se na colônia de férias dos funcionários do banco (Banricap). Hoje abriga o Centro de Treinamento da Procergs.

Foto: Museu Banrisul - Antigo Cassino Banrisul, rua Doutor Mario Totta, bairro Tristeza, década de 1940 (acervo Porto História PH/Banrisul: o nosso banco).

Do Blog Porto História PH

P.S. A Rua Doutor Mário Totta, na zona sul de Porto Alegre, tinha se transformado numa passarela de craques naquele abril de 1969. A estada da Seleção Brasileira na sede campestre que ficava às margens do Guaíba alterou a rotina da vizinhança, especialmente pela presença de policiais, que impediam o acesso ao local da concentração, o Hotel da Praia.

No ano seguinte, a Seleção Brasileira iniciou a preparação para a Copa do Mundo do México em um amistoso no dia 4 de março de 1970 contra a Argentina.

O jogo foi disputado no Estádio Beira Rio, em Porto Alegre, com um público de 69. 345 pagantes. João Saldanha, que classificara o Brasil para o Mundial, fez algumas alterações na equipe, e o resultado não foi dos melhores.

Com gols no segundo tempo, a Argentina venceu por 2 a 0. Quatro dias depois, o Brasil foi à forra e derrotou os argentinos por 2 a 1, no Maracanã. Mas a vitória não foi suficiente para manter João Saldanha no cargo, demitido e substituído por Zagalo.

Cine−Thetro Gioconda, o cinema da Tristeza


Cartaz do Cine-Theatro Gioconda com a programação de 1924, juntado como prova em processo judicial de 1927. O cinema funcionava numa casa alugada por Manoel Rodrigues Filho e João Pellegrino no arrabalde da Tristeza, onde também havia um bar com mesa de bilhar.

Imagem: acervo do Memorial da Justiça Federal do RS

No cartaz há o seguinte texto: “O único cinema deste bairro que apresenta ao público as maiores novidades cinematographicas! Os verdadeiros filmes de sucesso, FORAM, É, E SERÃO exibidos unicamente no preferido e popular CINEMA GIOCONDA.”

P.S. Hoje, no local que, depois de ser cinema, estúdio de filmagem do falecido cantor nativista Teixeirinha, e Caixa Econômica Federal, está loja TAQUI.

(Do Blog Porto História PH)

A Tristeza nunca foi triste

Gastão Loureiro Chaves


Baile de Carnaval da Sociedade União Padeiral, em 1929 –
foto retirada do livro Revelando a Tristeza, de Roberto Pellin

Talvez para desmentir o nome lendário, com diversas versões. Em eras passadas, núcleo populacional pequeno, havia muita integração social, por meio das reuniões familiares. Funcionava também como elemento aglutinador um cinema − o Gioconda, em um amplo prédio ainda existente ao lado do supermercado Nacional, na Avenida Wenceslau Escobar, atualmente desocupado.

Existiam, então, entre outras, duas sociedades rivais: Jocotó e Filosofia. A primeira, mais despojada e foliona. A segunda, mais elitista e restrita. A Filosofia era presidida pelo Dr. Armando Barbedo, e o Jocotó, pelo Dr. Mário Totta - ambos renomados médicos que, mais tarde, vieram dar seus nomes às ruas onde moravam e que até hoje são mantidos.

O Dr. Mário Totta era uma pessoa extrovertida, muito alegre e jovial, sempre à frente dos acontecimentos singulares do arrabalde. Assim, quando foi introduzida no bairro a luz elétrica, promoveu o festivo funeral do lampião. Os bailes de carnaval eram efetuados, quase sempre, pelo Jocotó no cinema Gioconda, e os da Filosofia no Theatro São Pedro, no centro da cidade, cujas plateias eram removidas para a execução dos folguedos carnavalescos.

Estes eram antecedidos por uma preparação, os chamados 'assaltos' às residências dos veranistas. Em data previamente acertada, os 'cordões', formados por pares, geralmente de namorados, invadiam as moradas dos assaltados, onde eram recebidos com 'comes e bebes', e, por algumas horas, ficavam evoluindo, dançando e cantando, ao ritmo de improvisados conjuntos.

Na noite do respectivo baile de Carnaval, antes de iniciá-lo, cada sociedade realizava um corso, em carros abertos, precedido por cavalarianos que tocavam clarins pelas ruas centrais da Capital. Os cordões, em uma sadia emulação, se esmeravam na criatividade e no aprimoramento das fantasias e, no decorrer dos bailes, se visitavam reciprocamente.

O entusiasmo e a animação eram extravasados por canções, confete, serpentina e lança-perfume. Este de livre uso, eis que não ocorrera ainda o desvirtuamento, que levou à sua proibição. Tudo era, apenas e tão somente, alegria espontânea, sem malícia ou qualquer perversão ou desvio.

Ocorriam ainda durante os folguedos carnavalescos banhos à fantasia no Guaíba, em que os veranistas utilizavam as mais estranhas vestimentas e disfarces, em meio a hilariantes momices e trejeitos. Assim foi a Tristeza na época do Carnaval.

*Gastão Loureiro Chaves - advogado aposentado que mora na Tristeza - e foi originalmente publicado no caderno ZH Zona Sul de 9 de fevereiro de 2007.


As “baratinhas” na Tristeza

O 8º Circuito da Pedra Redonda foi realizado em julho de 1957 e teve como vencedor o campeão argentino Juan Gálvez, com velocidade média de 136,32 km/h. Sua carretera Ford cupê 1939 pesava 350 kg a menos que as demais. Os irmãos Júlio e Catharino Andreatta foram, respectivamente, o segundo e o terceiro colocados. A partir de então, os pilotos brasileiros adotaram os novos princípios da preparação argentina.

Na categoria “sport”, para veículos com motores de até 2.000 cm3, participaram automóveis das marcas Simca, Volkswagen, Citroen, Borgward, DKW, Renault e Austin. (Paulo Scali/Circuitos de rua: 1908-1958)

Foto: autor desconhecido – Um momento da prova realizada em 1957 no Bairro Pedra Redonda, zona sul de Porto Alegre. (Acervo Porto História PH/Circuitos de rua: 1908-1958)

P.S. A foto é do final da avenida Wenceslau Escobar, descendo para a Pedra Redonda e início da avenida Coronel Marcos.

Do Blog Porto História PH

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