Por Cornélio Pires
Entrei na sala de aulas da escola
sertaneja. Os alunos, barrigudinhos, de pernas finas como sabiás, de cabelos
compridos como beiradas de rancho de sapé, levantaram-se e ficaram firmes como
estátuas. Mandei-os que se sentassem, e a professora fez uma demonstração de
aula, dizendo que há apenas três meses organizara a sua classe.
- Formação
de frases! Seu Joãozinho, organize uma frase terminando com a palavra rico.
- A professora é rico!
-- Ora, o senhor está me
envergonhando. Lá o senhor, seu Salatiel.
- O boticário é rico.
- Muito bem! Agora outra
frase terminando em cera.
- Toda a classe pôs-se a
pensar, até que um ruivinho, dos olhos azuis, deu sinal de que sabia.
- Diga
o senhor, seu Joanim. Uma frase terminando em cera.
- Buona cera.
Rimo-nos, e a professora
continuou:
- Seu Chiquinho, quantos
sentidos nós temos?
- Cinco sentidos.
- Seu Rafael, para que
serve a boca?
- A boca? Pra gostá.
- Seu Maneco, para que
serve o nariz?
- O nariz? Pra cheirá.
- Seu Julinho, para que
servem os olhos?
- Os óio pra oiá.
- Seu Mingote, um sentido
que temos bem pronunciado nas palmas das mãos? Para que serve?
- Pra
aparpá.
- Agora o senhor, seu
Salvador, para que é que serve a orelha?
- A oreia? A oreia… pra
ponhá toco de cigarro.
- É como o senhor vê. A classe
está nesse atraso, mas daqui a um ano será outra, pois as crianças brasileiras
são inteligentíssimas. O senhor está estranhando este monte de livros em cima
da mesa? Vou mostrar-lhe a utilidade que têm.
Encurvou a
palma da mão esquerda, e começou:
- Meninos, um grão de milho
e mais um grão de milho, quantos são?
- Dois!
- Muito bem! Dois grãos de
milho, mais um?
- Três!
- Perfeitamente! Agora três
grãos de milho e mais dois?
- Sete!
- Não! Pensem bem. Tenho
fechado na palma da mão três grãos de milho e mais dois. Quantos são?
- Um
punhadinho.
- Como o senhor vê, isto
até me faz rir sozinha algumas vezes. Vai o senhor ouvir o mais atrasadinho da
classe. Seu Salvador, quem de cinco tira três, quanto é que fica?
- Oito!
- Não é aumentar, menino! É
diminuir! Tirar. Preste bem atenção. Quem de cinco dedos tira três dedos tira
três dedos, o que é que fica?
- Fica
aleijado!
(Transcritos do CD “Som da Terra”; Cornélio Pires.
Warner Music Brasil, 995048-2)
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