Camagüey, 1902 - Havana, 1989
Poeta
cubano. Representa a poesia negra do seu país. Cultiva a poesia social, bem
como a lírica tradicional. Encontra a sua originalidade adaptando o ritmo e a
cor tradicionais da poesia negra e afro-antilhana. Os seus versos, de um
profundo conteúdo humano e de uma excepcional musicalidade, saem do povo e são
dirigidos ao povo. O seu livro mais conhecido é Sóngoro cosongo (1931), no qual canta a beleza negra da sua ilha,
afirmando que, ali, uma poesia crioula nunca pode ser considerada perfeita caso
se esqueça do negro. Das suas restantes obras, em que exalta os ideais
revolucionários do seu país, refere-se Motivos del son, West Indies Limited,
Cantos para soldados e sones para turistas, La paloma de vuelo popular, Poemas
de amor, etc.
Podes?
Nicolás Guillén
Podes vender-me o ar que passa
entre teus dedos
E golpeia teu rosto e desalinha
teus cabelos?
Talvez possas vender-me cinco
moedas de vento?
Ou mais, talvez uma tormenta?
Acaso me venderias ar fino – não
todo –
O ar que percorre teu jardim de
flor em flor
E sustenta o voo dos pássaros?
Dez moedas de ar fino, me
venderias?
O ar gira e passa na asa da
mariposa.
Ninguém o possui. Ninguém!
Podes vender-me céu?
Céu azul por vezes, ou cinza,
também às vezes,
Uma parte do teu céu, o que
compraste, pensas tu,
Com as árvores do teu sítio,
Como quem compra o tetocom a casa ?
Como quem compra o teto
Podes vender-me um dólar de céu?
Dois quilômetros de céu, um
pedaço,
O que puderes, do “teu” céu?
O céu está nas nuvens. Altas passam
as nuvens.
Ninguém o possui. Ninguém!
Podes vender-me chuva?
A água que forma tuas lágrimas
molha tua língua?
Podes vender-me um dólar de água
da fonte?
Um nuvem crespa, me venderias?
Ou, quem sabe, água chovida das
montanhas?
Ou água dos charcos, abandonada
aos cães?
Ou uma légua de mar, talvez um
lago?
A água cai e corre. A água corre.
Passa.
Ninguém a possui. Ninguém.
Podes vender-me terra?
A profunda noite das raízes,
dentes de dinossauros,
A cauda espessa de longínquos
esqueletos?
Podes vender-me selvas já
sepultadas, aves mortas,
Peixes de pedra, enxofre dos
vulcões,
Milhões e milhões de anos em
espiral crescendo?
Podes vender-me terra?
Podes vender-me?
Podes?
A tua terra é terra minha, todos
os pés se apoiam nela.
Ninguém a possui.
NINGUÉM!
Nenhum comentário:
Postar um comentário