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Entre as músicas que davam sorte, escutadas através do rádio do soldado, estava o clássico instantâneo “Hey Jude”, composição de Paul McCartney que ganhou um cover do baiano lançado hoje.
Mas Caetano emocionou-se ao lembrar de outra música que o acompanhou: “Onde o céu azul é mais azul”, de Francisco Alves.
“Onde o céu azul é mais azul’ para mim é uma surpresa que, quando eu fui levado a lembrar, só falar o nome dá vontade de chorar. Uma coisa comovente, não assustadora ou ameaçadora. Tive pena de não ter cantado a canção todos esses anos, e de não ter coragem de cantar agora.”
O repertório contempla músicas que se relacionam com o período no cárcere, como “Irene” (a única composta na prisão) e “Terra”.
O
estilo vanguardista e contestador de Caetano atraiu a atenção do regime
militar, até que, em dezembro de 1968, ele foi preso,
Cartaz do documentário “Narciso em férias”,
com a foto da cabeça não tanto *raspada.
A letra de Irene, irmã de Caetano Veloso, fez com que Caetano sentisse, nos dias em ficou preso, a vontade ir embora, e ouvir, novamente, o riso contagiante de Irene, quando dava as suas risadas. Fala Caetano: Mesmo sem violão, inventei uma cantiga evocando-a, que passei a repetir como uma regra: “Eu quero ir, minha gente/ Eu não sou daqui/ Eu não tenho nada/ Quero ver Irene rir/ Quero ver Irene dar sua risada./ Irene ri, Irene ri. Irene”. Foi a única canção que compus na cadeia.
Caetano Veloso
Eu
não sou daqui.
Eu
não tenho nada,
Quero
ver Irene rir,
Quero
ver Irene dar sua risada. (bis)
Irene ri, Irene ri, Irene!
Quero
ver Irene dar sua risada.
Irene é a irmã caçula de Caetano. Em seu livro Verdade Tropical, no capítulo dedicado aos seus dias na prisão, Caetano descreve a irmã e conta como surgiu a música:
“A figura de minha irmã Irene aparecia com frequência em minha mente como um antídoto contra essas sombras. Irene tinha catorze anos então e estava se tornando tão bonita […]. Mais adorável ainda do que sua beleza era sua alegria, sempre muito carnal e terrena, a toda hora explodindo em gargalhadas sinceras e espontâneas. Mesmo sem violão, inventei uma cantiga evocando-a, que passei a repetir como uma regra.”
Na foto: Irene Veloso e Dona Canô, irmã e mãe de Caetano.
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