Por Fabíola simões de Brito Lopes
Quando
eu era pequena, não entendia o choro solto de minha mãe ao assistir a um filme,
ouvir uma música ou ler um livro. O que
eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava
pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz
de compreender.
O
tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos
milagres do cotidiano. É que a memória é contrária ao tempo. Nós temos pressa,
mas é preciso aprender que a memória obedece ao próprio compasso e traz de
volta o que realmente importou, eternizando momentos.
Crianças
têm o tempo a seu favor e a memória muito recente. Para elas, um filme é só uma
animação; uma música, só uma melodia. Ignoram o quanto a infância é impregnada
de eternidade.
Diante
do tempo envelhecemos, nossos filhos crescem, muita gente se despede. Porém,
para a memória ainda somos jovens, atletas, amantes insaciáveis. Nossos filhos
são nossas crianças, os amigos estão perto, nossos pais ainda são nossos
heróis.
A
frase do título é de Adélia Prado: “O que a memória ama, fica eterno”. Quanto
mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente.
Quando
nos damos conta, nossos baús secretos − porque a memória é dada a segredos −
estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da
conta, do que permaneceu além do tempo.
Um
dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, ninguém nota, mas
aquela música já fez parte de você − foi a trilha sonora de um amor, embalou os
sonhos de uma época ou selou uma amizade verdadeira − e, mesmo que os anos
tenham se passado, alguma parte de você se perde no tempo e lembra alguém, um
momento ou uma história.
Ao
reencontrar amigos da juventude, do Colégio, nos esquecemos que somos adultos e
voltamos a nos comportar como meninos cheios de inocência, amor e coragem.
Do
mesmo modo, perto de nossos pais, seremos sempre “As Crianças”, não importa se
já temos 30, 40 ou 50 anos. Para eles, a lembrança da casa cheia, das brigas
entre irmãos, das histórias contadas ao cair da noite… serão sempre recentes,
pois têm vocação de eternidade.
Por
isso é tão difícil despedir-se de um Amor ou alguém especial que por algum
motivo deixou de fazer parte de nossas vidas.
Dizem
que o tempo cura tudo, mas, talvez, ele só tire a dor do centro das atenções.
Ele acalma os sentidos, apara as arestas, coloca um band-aid na ferida. Mas
aquilo que amamos tem disposição para emergir das profundezas, romper os
cadeados e assombrar de vez em quando.
Somos
a soma de nossos afetos, e aquilo que nos tocou pode ser facilmente reativado
por novos gatilhos − uma canção cala nossos sentidos; um cheiro nos paralisa
lembrando alguém; um sabor nos remete à infância.
Assim,
também permanecemos memórias vivas na vida de nossos filhos, cônjuges, ex-amores,
amigos, irmãos. E mesmo que o tempo nos leve daqui, seremos eternamente
lembrados por aqueles que um dia nos amaram.
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