Luís Fernando Veríssimo
Billie
Holiday não podia cantar Strange Fruit (Estranho Fruto) quando e onde quisesse.
Muitas vezes a permissão para cantar a canção dependia de uma negociação como
dono do bar ou o promotor do evento, preocupados com a reação do público, na
sua maioria branco. A gravadora Columbia, da qual Billie era contratada,
recusou-se a gravar Strange Fruit. Bille teve que recorrer a uma gravadora
menor e, em 1939, lançou a incômoda canção junto com um certo Lewis Allan, pseudônimo
de um professor judeu do Bronx chamado Abel Meeropol, autor do poema musicado
por Billie, e sobre quem se sabe muito pouco. Meeropol, autor do poema musicado
por Billie, (...) que ela transformou em letra foi em reação ao linchamento de
dois afro-americanos no sul dos Estados Unidos, caçados e enforcados por
nenhuma outra razão além da cor da sua pele. Há uma foto (acima) dos dois
corpos pendendo, como estranhos frutos, do galho de um álamo, cercados por uma
multidão de brancos com uma coisa em comum: todos sorriem de satisfação pelo
que acabam de fazer.
Strange Fruit
Abel Meeropol
Blood on the leaves and blood at the root,
Black bodies swinging in the southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar trees.
Pastoral scene of the gallant south,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolias, sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh.
Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop.”
Sangue nas folhas e sangue na raiz,
Corpos negros balançando à brisa do sul,
Estranhos frutos pendurados nos álamos.
Os olhos saltados e a boca torcida,
Perfume de magnólias, doce e fresco,
E então o repentino cheiro de carne queimando.
Para a chuva enrugar, para o vento sugar,
Para o sol apodrecer, para as árvores derrubarem,
Esta é uma estranha e amarga colheita.”
Billie
Holiday morreu ainda jovem, em 1959. Tinha 44 anos e foi devastada pelo abuso
do álcool e de drogas. Mas nunca deixou de cantar a canção inquietante que,
naqueles anos, foi frequentemente associada à luta por causas progressistas e
avançadas. Foi cantada por ela na comemoração do 1º de Maio de 1941, na Union
Square,
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