Machado de Assis aos 25 anos
“Em vão passavam as gerações, ele não passava.
Chamava-se
João.
Noivos
casavam, ele repicava às bodas;
crianças
nasciam, ele repicava ao batizado;
pais
e mães morriam, ele dobrava aos funerais.
Acompanhou
a história da cidade.
Veio
a febre amarela, o cólera-morbo, e João dobrando.
Os
partidos subiam ou caíam,
João
dobrava ou repicava sem saber deles.
Um
dia começou a Guerra do Paraguai, e durou cinco anos;
João
repicava e dobrava,
dobrava
e repicava pelos mortos e pelas vitórias.
Quando
se decretou o ventre-livre das escravas,
João
é que repicou.
Quando
se fez a abolição completa,
quem
repicou foi João.
Um
dia proclamou-se a República,
João
repicou por ela, e repicaria pelo Império,
se
o Império tornasse.
Não
lhe atribuas inconsistências de opiniões;
era
o ofício.
João
não sabia de mortos nem de vivos;
a
sua obrigação de 1853 era servir à Glória,
tocando
os sinos, e tocar os sinos para servir à Glória,
alegremente
ou tristemente,
conforme
a ordem.”
(*Quanta gente, que nós
conhecemos, é exatamente assim...)
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