Juremir Machado da Silva
Essas palavras já estão de tal modo incorporadas ao nosso cotidiano que não exigem mais destaque em itálico ou entre aspas. Todo dia, a gente diz ou ouve com a maior naturalidade frases assim:
− Não deixa de me mandar o link.
− Tranquilo. A nossa live vai bombar.
Quase nunca bomba, mas se toma mate amargo durante o evento. É link e live o tempo todo. A conversa pode tomar rumos curiosos.
− Qual o aplicativo? Streamyard?
−
Não, vai ser no Meet.
−
Ainda usando o Mano.
− Nunca ouvi falar. Eu usava muito o Hangout.
Rola. As pessoas se entendem. Os mais deslumbrados tiram uma onda. Usam aquela condescendência que os faz dormir maravilhados:
− Sabe o Webex? Se não sabe, eu te mostro. É bem simples.
Só não participa de live quem está morto. Em geral, de medo de não corresponder à expectativa. O mate roda e a conversa prossegue:
− Qual a plataforma do curso on-line?
−
Vimeo.
−
E da live?
− Vamos pegando o Streamyard para ter multiplataforma: Twitter, Facebook e YouTube. Só não dá pra jogar no Insta. É uma limitação.
Insta, claro, é o Instagram para os íntimos. E quem não é íntimo? Com as redes sociais só não vai quem se atrasou. Dizer que está fora é se condenar ao desprezo da sociedade por cem anos. Na educação, o Zoom deita e rola. O que mais se ouve é “tipo assim”.
− Te mando o link.
− Vou poder compartilhar a tela?
− Óbvio. Compartilhar a tela, gravar e usar tradução simultânea.
− Tu
serás o anfitrião?
−
Sim. Te ponho como “co”.
− Sextou.
Vez ou outra, dá rolo. A moça ficou indignada. Falava ao celular, de máscara, enquanto atravessava a rua com o sinal fechado:
− Me mandaste o link errado. Não era a fala da Greta Thumberg.
−
Puxa! Que houve?
−
Entrei na sala errada.
−
Quem estava falando?
− O Steve Bannon.
É um mundo novo no qual tudo envelhece rápido, especialmente os usuários. Numa live sobre nostalgia um cara pediu o e-mail do outro:
− E-mail? Que negócio é esse?
−
Correio eletrônico, pô!
− Isso não é do tempo do fax?
Noutra live, que nada acontece fora das lives, a menina falou com uma candura que me fez pensar nos tempos da inocência presencial:
− Tem cripto?
−
Claro. Totalmente segura.
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