Versão de Millôr Fernandes
De
repente, a raposa, esfomeada e gulosa, fome de quatro dias e gula de todos os
tempos, saiu do deserto e caiu na sombra deliciosa do parreiral que descia por
um precipício a perder de vista. Olhou e viu além de tudo, à altura de um
salto, cachos de uvas maravilhosos, uvas grandes, tentadoras. Armou o salto,
retesou o corpo, saltou, o focinho passou a um palmo das uvas. Caiu, tentou de
novo, não conseguiu. Descansou, encolheu mais o corpo, deu tudo que tinha, não
conseguiu nem roçar as uvas gordas e redondas. Desistiu, dizendo entre dentes,
com raiva: “Ah, também, não tem importância. Estão muito verdes”. E foi
descendo, com cuidado, quando viu à sua frente uma pedra enorme. Com esforço
empurrou a pedra até o local em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra,
perigosamente, pois o terreno era irregular e havia o risco de despencar,
esticou a pata e conseguiu! Com avidez colocou na boca quase o cacho inteiro. E
cuspiu. Realmente as uvas estavam muito verdes!
Moral:
quanto qualquer outra.
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