quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Um professor criativo

                                              Um “mestrezão”

                                          por Ricardo Velloso*

Os principais cursos pré-vestibulares de Porto Alegre, no fim dos anos 70, eram Mauá e IPV. A partir de 1977, as dissidências levaram um grupo de professores a montar os dois principais cursos da atualidade que são, respectivamente, Unificado e Universitário. Naquele tempo, os professores de cursinhos eram como jogadores de seleção, pelo carisma principalmente. Vale a pena relembrar alguns nomes: Appel, Fogaça, Mandelli, Paulo Simões, Castellano, Alfredo, Túlio, Gatto, Gianotti, Fulgêncio, Beleza, Flávio, Lontra, Eufrázio, Menegotto, Maia, Sanábria, Clóvis, Mantelli, Igor, Jorge, Lopes, Neri, Floriano, Marcão, Miltinho, Araújo, Kaplan, Ênio, Regis, Alcides, Ruffini, Moreno, Filipe, Fontoura... enfim, são tantos além dos citados, que formavam uma verdadeira seleção de craques do ensino.

Existia uma espécie de aura em volta deles, tamanha afinidade mantinham com os alunos. Claro que uns mais e outros menos. Édison de Oliveira era o maior de todos. A sua espontaneidade, conhecimento, presença de espírito eram impecáveis e isso era a sua marca registrada. Eram tempos difíceis os anos 70, estávamos convivendo com uma ditadura militar, uma época de inflação alta, de pouca expressão cultural e também precária de tecnologia voltada para o ensino.

Não se falava em multimídia ou DVD, nenhum professor tirava um pen drive do bolso, mas carregava debaixo do braço um desconfortante e pesado projetor de slides com carretel circular para o enriquecimento das aulas, os microfones eram grandes e com fio e os ventiladores de pé eram voltados para os alunos... Nem com toda essa lacuna tecnológica o brilhantismo de suas aulas era apagado, Édison estava à frente do seu tempo, segurava uma turma de 400 alunos no giz, no conhecimento, na competência e nas saudáveis brincadeiras que entravam no contexto na hora certa e de forma estratégica. Quem não se lembra da galinha de borracha, dos beijos que ele deixava na palma da mão dos alunos ou do “tesômetro” que ele usava para medir o entusiasmo das turmas? A tietagem matava aula numa turma para assistir ao “mestrezão” na outra. Dores de barriga e lágrimas de tanto rir eram conseqüências naturais do seu cômico e sábio jeito de se comunicar. Édison, já naquela época, foi crítico e lúdico, inteligente e cômico, competente e responsável ao mesmo tempo.

Vários desses craques já nos deixaram: Edmilson, Gatto, Flávio, Lopes, Mandelli e agora Édison de Oliveira se junta a eles.

Privilegiados foram aqueles alunos que passaram por esses mestres. E muito de nós, professores, tivemos e ainda temos forte influência dessa turma, pois outrora fomos seus alunos.

Mas fica a saudosa lembrança de quem foi inigualável, o mestre dos mestres, aquele que teve coragem de meter a cara nas brincadeiras em sala de aula, aquele que se expôs sem vergonha das conseqüências e aquele, que com toda a sua grandeza, foi humilde no relacionamento com os professores e com os alunos.

A fôrma se perdeu, dificilmente surgirá outro Pelé, Falcão ou Édison de Oliveira.

Vocês entenderam?

Sim, mestrezão!

(Do blog Recanto da Letras)

P.S. Também tive o privilégio de conhecer o prof. Édison que, foneticamente, deveria se chamar Édizon, porque “s” entre duas vogais tem som de “z”, mas todos o chamavam de Édisson, como se seu nome tivesse dois “ss”. É por isso que todos grafam o nome como Édson. Voltemos ao professor mais criativo dos cursinhos pré-vestibular da Porto Alegre dos anos 60, 70, 80, 90... contando piadas, dançando chula, fazendo mágicas para captar, no início das suas aulas, a atenção dos alunos; depois, era aula séria até o fim do período.

                                                        (NSM)

Morre o professor Édison de Oliveira aos 73 anos

(1935-2008)

Por L&PM Editores

Um dos primeiros professores no Rio Grande do Sul a ensinar português com simplicidade e irreverência, Édison de Oliveira morreu nesta terça-feira (04 de março de 2008) aos 73 anos, vítima de insuficiência cardíaca.

Com o título de Professor Emérito do Rio Grande do Sul – recebido em 1996 como reconhecimento por seu trabalho inovador na área de ensino –, Édison atuou por 35 anos ensinando português e redação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e nos principais cursos pré-vestibulares de Porto Alegre. Em 1976, criou o Centro Permanente de Português, voltado para o ensino da redação, dos conteúdos gramaticais e da interpretação de textos. O professor era o responsável pela metodologia e pelo material didático utilizados no local.

Nas aulas, transmitia conhecimento aos alunos sempre utilizando piadas, músicas e bom humor. A dedicação, a simplicidade e a alegria em ensinar foram marcas registradas durante toda a sua trajetória profissional.

Édison escreveu oito livros didáticos, entre eles “Todo o mundo tem dúvida, inclusive você”, com mais de 200 mil exemplares vendidos em todo o Brasil, “A comunicação através das palavras”, “Escreva certo”e “O hífen e outras dúvidas”.

Também atuou como colaborador de meios de comunicação, sendo o autor de duas colunas diárias de língua portuguesa, publicadas nos jornais Zero Hora, em 1974, e Folha da Tarde, em 1976. Apresentou ainda programas de TV e participou de outros no rádio.

Atualmente, suas dicas em parceria com a professora Maria Elyse Bern, do centro Permanente de Português, eram publicadas todas as sextas-feiras no Diário Gaúcho.

Deixa a mulher, Lorena Garcia de Oliveira, e um filho, Rogério.

Este texto foi publicado no jornal Zero Hora, em 05/03/08.

 

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